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Springsteen busca na literatura "honestidade" que a música não alcança

19 out 2016 - 06h02
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O cantor Bruce Springsteen encontrou na literatura a "honestidade" que nem sempre conseguiu refletir em músicas de poucos minutos, conforme explicou em um encontro com jornalistas em Londres o autor de "Born to Run", uma autobiografia com quase 600 paginas de revelações.

Aos 67 anos, o americano compareceu ao Instituto de Arte Contemporânea da capital britânica usando uma jaqueta de couro preta, além de óculos para ler de perto algumas passagens do livro.

Diante de um pequeno auditório, o artista admitiu estar mais acostumado com os shows em grandes estádios do que com o trabalho literário de escrever memórias, atividade que levou sete anos para ser concluída.

"Não há ninguém para te aplaudir quando você acaba de escrever (risos). Muitas das minhas músicas, inclusive aquelas que as pessoas acreditam ser muito pessoais, como no álbum 'Tunnel of Love', têm por trás um trabalho de imaginação. Na realidade, me coloquei no lugar de outro e imaginei como seria a vida. Inventei muitas coisas para as minhas canções", confessou.

No livro, o artista revela aspectos privados como o orgulho da mãe, que começa a sentir os sintomas de Alzheimer, e como teve que aprender a cuidar dos filhos em meio à falta de uma referência adequada no próprio pai.

"Escrever foi uma oportunidade para entrar mais detalhadamente na complexidade das relações pessoais. Certamente, pude fazer isso com meu pai, cuja vida foi muito mais complicada do que retratei através da música", afirmou.

Com o Nobel de Literatura recentemente concedido a Bob Dylan, Springsteen quis evitar comparações e abriu a conversa dizendo que entre seus objetivos não está a glória literária.

"Há uma grande diferença. Bob é certamente um poeta, eu sou um viajante que trabalha duro. Dylan foi um escritor muito influente. Muito depois que todos nós sejamos esquecidos, o trabalho de Bob continuará soando alto e claro", afirmou o músico, que considera "altamente improvável" lançar um segundo livro após a autobiografia.

Mesmo assim, Springsteen não esconde a admiração por Philip Roth, romancista americano que para alguns críticos tinha mais méritos que Dylan para levar o Nobel.

Entre as influências que o inspiraram nos últimos anos, além de Roth, o músico cita Dostoievski e Tolstoi, em cujas obras encontra a "complexidade psicológica" que tentou refletir em suas memórias. Ao mergulhar na infância, Springsteen disse que sonhava em se tornar uma estrela do rock desde que tem memória.

"Tinha um sonho em que Mick Jagger ficava doente antes de um show em Asbury Park e os Rolling Stones precisavam de mim para ir ao palco", comentou entre risos Springsteen, que cresceu em uma casa humilde de Nova Jersey.

O músico americano admite que o livro não revela "tudo" sobre sua vida, mas que mantém o compromisso de se "abrir ao leitor". Segundo sua opinião, o livro será particularmente interessante para os fãs que quiserem compreender melhor a origem de suas letras.

O livro se aprofunda, entre outras questões, na educação religiosa que ele recebeu até os 13 anos e na grande influência que conceitos católicos como "redenção" e "glória" tiveram em sua criação.

"Quando você tem seis anos e está no primário, na aula de religião, a primeira coisa que te apresentam é a Bíblia, com seu incrível mundo de poesia obscura, prazer, sofrimento, alegria, profunda tristeza e felicidade", detalhou Springsteen, que continuou a utilizar esses conceitos em quase cinco décadas de carreira musical.

EFE   
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