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Produtor Gui Boratto fala sobre sua carreira e diz: "Não sou um DJ"

12 nov 2012 - 16h37
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Felippe Camargo

Embora muitas pessoas considerem o Gui Boratto um DJ - já que estão acostumadas a vê-lo se apresentando nas cabines dos clubs e festas -, ele mesmo faz questão de negar esse rótulo. "Eu não me considero, como também não sou um DJ", disse em entrevista ao Terra. Para ser mais específico, ele explicou: "Toco com um formato similar ao de DJ, mas é diferente. Os DJs tocam principalmente uma seleção de músicas de diversos artistas e usam às vezes um computador, CDJ ou pick-ups. Eu faço um live com um repertório quase que exclusivamente meu e com outra interface - todas as faixas que eu toco tem um 'dedo' meu".

Arquiteto de formação acadêmica, casado e pai de uma filha de sete anos, Gui Boratto mergulhou no mundo da música desde pequeno. Seu avô era maestro, sua mãe tocava piano e seus tios também eram envolvidos com o universo musical. Aos 8 anos de idade, começou a estudar guitarra e piano. Quando completou 14, ganhou seu primeiro sequenciador. "Esse foi o start pra eu entrar na música eletrônica", revelou. Desde então, começou a produzir suas próprias batidas e melodias - entre o final dos anos 80 e início dos anos 90 - e não parou mais.

Misturando subvertentes do techno e do house com influências de trance, ele já coleciona três álbuns solo (Chromophobia, Take My Breath Away e III) lançados pela famosa gravadora alemã Kompakt, além de dezenas de músicas em diferentes coletâneas pelo mundo. Com uma média de cinco turnês por ano, Gui Boratto deixou sua marca nos 'dancefloors' de muitos países, incluindo Holanda, Estados Unidos, Austrália, Singapura, Alemanha e Argentina. "Quando não estou em turnê fora, tenho minhas gigs por aqui nos finais de semana", disse. Atualmente, ele é um dos poucos artistas brasileiros que possui faixas lançadas em gravadoras de respeito no cenário da e-music mundial, como as alemãs Kompakt e Budenzauber, e as britânicas Ministry of Sound e Toolroom Records.

Recentemente, Gui Boratto mostrou versatilidade ao participar do projeto Smirnoff Music Mob, onde enfrentou o desafio de produzir uma música a partir de instrumentos gravados por pessoas comuns em praças da cidade de São Paulo. "Tem o chocalho de uma menina, os slaps de baixo gravados por um cara e guitarras gravadas por três pessoas diferentes. Cada um ia lá mandava o que queria", contou o produtor. Em entrevista ao Terra, ele falou sobre suas próximas turnês, sua vida pessoal e confessou um desejo: "Tenho muita vontade de remixar um Depeche Mode".

Confira a entrevista completa:

Terra - Como começou seu interesse por música?

Gui Boratto - Minha relação com a música começou desde pequeno. Na família da minha mãe todos tocam um instrumento. Meu avô era maestro, então eu cresci no meio da música. Tive a formação de músico. Toco piano e guitarra. Fui praticamente obrigado pela minha mãe a aprender piano, porque na época eu queria ficar a tarde inteira tocando rock na guitarra. Mas hoje, agradeço a ela por isso.

Terra - E quando decidiu ser produtor de música eletrônica?

Gui Boratto - Comecei a estudar guitarra e piano com 8-9 anos. Aos 14, já tinha tido uma banda de rock de garagem. Era aquela coisa de moleque, de criança. E foi com essa idade que ganhei meu primeiro sequenciador. Esse foi meu 'start' pra largar um pouco essa coisa de banda. Eu estava enjoado daquela coisa crua de baixo, batera e guitarra. E assim, entre o final dos anos 80 e o começo dos anos 90, comecei a programar minhas batidas e a fazer música sozinho. Como já tinha formação de piano, eu tinha muita intimidade com teclas. Isso me ajudou muito.

Terra - E desde então você produz música todos os dias? Como é sua rotina de trabalho?

Gui Boratto - Normalmente eu tenho as 'gigs' de fim de semana e durante a semana fico em casa com a minha mulher e minha filha. É aquela coisa do cotidiano. Levo minha filha pra escola bem cedinho e quando volto pra casa já começo a produzir. Sempre fui um cara muito 'do dia'. As minhas melhores inspirações sempre vêm de manhã. Fico a manhã toda produzindo e compondo. Depois faço uma pausa para o almoço e continuo à tarde. Quando chega 6-7 horas da noite, desligo tudo e fico com a minha família.

Terra - E quanto às turnês? Você viaja muito?

Gui Boratto - Já cheguei a fazer turnês de 45 dias sozinho. Hoje em dia faço turnês de no máximo 15 dias. Normalmente faço 5 ou 6 por ano, incluindo Ásia, Europa e Estados Unidos. Às vezes tem Austrália e às vezes não. Nos Estados Unidos costumo tocar 2 vezes por ano. Aqui no Brasil, quando não estou em turnê fora, tenho minhas 'gigs' no final de semana. Toco bastante em clubs como Warung (Santa Catarina), Green Valley (Santa Catarina), Lique (Curitiba), Clash (São Paulo), Privilège (Búzios) e Pacha Floripa. E normalmente toco naqueles festivais que sempre rolam aqui, como XXXPerience, Tribe e Kaballah.

Terra - Você se considera um DJ também?

Gui Boratto - Eu só não me considero, como também não sou um DJ. Hoje as pessoas me chamam erroneamente de DJ. Toco com um formato similar ao de DJ, mas é diferente. Os DJs tocam principalmente uma seleção de músicas de diversos artistas e usam às vezes um computador, CDJ ou pick-ups. Eu faço um live com um repertório quase que exclusivamente meu e com outra interface. Conto uma história com as minhas músicas. Todas as faixas que eu toco tem 'um dedo' meu.

Terra - Como você descreveria seu som?

Gui Boratto - Minhas músicas são bastante melodiosas. Às vezes mais pro house, às vezes mais pro trance. Eu não tenho um estilo muito definido. Passeio por várias vertentes. Uma vez um jornalista de São Francisco descreveu meu som de um jeito que eu concordo bastante: Ele falou que eu faço um "Slow Emotional Techno". Seria um "emo-techno" (risos), que significa ser melodioso e mais lento. Seria um subgênero do techno. Mas rótulo é uma coisa irrelevante. O que importa é que as pessoas gostem e se identifiquem. Não tenho esse preciosismo de ser considerado "o cara do techno".

Terra - Recentemente, você produziu uma faixa com instrumentos gravados por várias pessoas diferentes no projeto SMIRNOFF® Music Mob. Como foi essa experiência?

Gui Boratto - Foi um desafio. Em primeiro lugar, achei a ideia muito legal. Como hoje você tem muitas possibilidades - em termos de ferramentas - de distorcer o material original e transformá-lo de uma maneira tão absurda, tentei preservar o máximo o timbre dos instrumentos que as pessoas gravaram. Tanto que a música ficou com uma pegada de banda. Eu poderia ter regravado as coisas em estúdio, mas procurei encaixar tudo e fazer a música soar verdadeira. Parece que a já estava pronta. Tem o chocalho de uma menina, os slaps de baixo gravados por um cara, as guitarras gravadas por três pessoas diferentes. Cada um ia lá mandava o que queria. Não tinha metrônomo, nem tom. Selecionei os elementos que mais gostei pra depois mixar a música. O pessoal da Smirnoff está super aberto a licenciar a música para alguma gravadora pra poder ser vendida em algumas plataformas digitais, como Juno e Beatport. A faixa se chama 'Music MOB Open Beats'.

Terra - Você já remixou faixas de artistas como Pet Shop Boys, Moby e Massive Attack. Existe algum outro artista que gostaria de remixar?

Gui Boratto - Sempre fui fã de Depeche Mode. Tenho muita vontade de remixar um som deles, mas não sei se conseguiria fazer uma coisa tão parecida ou se tentaria ir para um outro lado e de repente poderia acabar com a música. Talvez hoje eu faria um remix deles ou de uma música de uma banda de rock que eu gosto bastante, que é 'The Killing Moon', do Echo and the Bunnymen. Enfim, tem muita coisa que a gente esquece, mas que daria um bom remix (risos).

Terra - E suas influências musicais? Quais seriam?

Gui Boratto - Meu gosto é muito eclético. Passeio pelo Rock, Bossa Nova, Tango e várias vertentes da música eletrônica. Gosto de escutar Black Sabbath, Rolling Stones, Stone Temple Pilots, Soundgarden e por aí vai. Mas sempre gostei também de Pet Shop Boys, de Queen, New Order e outras bandas mais felizes desse tipo. Depende do momento. Tem hora que você quer ouvir uma coisa, tem hora que quer escutar outra.

Terra - Quando e como surgiu a oportunidade de você assinar com o selo alemão Kompakt?

Gui Boratto - Foi uma situação muito normal. Mandei um CD demo pra Kompakt e um dia o Michael Mayer - que é um dos donos - entrou em contato. Foi assim que a gente lançou meu primeiro single pela label, que foi o 'Arquipélago', em 2005. Talvez tenha sido o segundo single mais vendido da história da Kompakt. Depois de um tempo, ele me ofereceu para lançar um álbum com eles. Daí eu fiz meu primeiro álbum com eles, que foi o Chromophobia. Isso também abriu portas pra eu assinar com outras labels, como a Cocoon. E a gente é muito amigo também. Não é só aquela coisa profissional. Eu me sinto realmente parte da família. Eu lanço aquilo que eu quero, com total liberdade. A capa que eu quero, com o conteúdo que eu quiser - mesmo que eu dê uma pirada e saia um pouco do estilo e da linha da Kompakt. Meu terceiro álbum, o 'III', saiu pela Kompakt em setembro de 2011.

Terra - E o que gosta de fazer quando não está trabalhando?

Gui Boratto - Eu gosto de coisas manuais. Não sei se você sabe, mas sou formado em arquitetura. Tenho um lado meio criança. Gosto de carrinho e helicóptero de controle remoto. Sou viciado em comida. Gosto de ir a restaurantes e cozinhar. Faço o jantar praticamente todos os dias aqui em casa. Minha mulher não cozinha absolutamente nada. Não sou cozinheiro, mas tenho uma paixão por comida boa e por restaurantes. Gosto de ir a bares descolados também. Minha mulher também gosta e minha filha vai direto com a gente.

Gui Boratto disse que não é um DJ
Gui Boratto disse que não é um DJ
Foto: Philippe Levy / Divulgação
Fonte: Terra
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