PUBLICIDADE

Terra Live: Chico Science nos levou a fazer música, diz Casuarina

17 mai 2012 - 16h52
(atualizado às 19h05)
Compartilhar

Convidados do Terra Live Music desta quinta-feira (17), os integrantes do grupo carioca de samba Casuarina afirmaram que ninguém os influenciou mais a rumar para a música do que Chico Science. Para eles, o artista pernambucano foi o símbolo de uma nova fase da cena brasileira, que foi crescendo posteriormente, em meados dos anos 1990, com o surgimento de bandas como O Rappa.

"As coisas levam a caminhos que a gente não prevê, e, quando o Chico Science se lançou, foi revolucionário", disse João Cavalcanti, que toca tantan e canta no quinteto. "Ele teve um cuidado com a coisa que não existia antes. A música brasileira finalmente voltou a ganhar espaço, até então dominado por estrangeiros."

Completando dez anos de carreira, o grupo, que é visto como um dos principais da cena do samba atual, tem uma origem bem diferente da maioria de seus pares. A começar pelo fato de seus integrantes terem se iniciado como músicos em estilos bem distantes do que tocam hoje. O bandoleiro João Fernando, por exemplo, é fã de heavy metal de berço; Daniel Montes, desfalque no programa gravado nos estúdios do Terra, já cantou até em banda de "ópera hard-core".

"A gente tem orgulho de ter entrado no samba por uma escolha nossa", disse Cavalcanti, citando outras diferenças básicas do Casuarina em relação à maioria dos grupos de samba. "A gente foge do estereótipo dos sambistas. Somos aparentemente todos brancos, não usamos as roupas tradicionais. E isso nos distancia um pouco daquilo que é esperado, só que, em vez de fugirmos disso, a gente prefere brincar."Duas mãos

Para transformar em música as ideias do violonista e também cantor Gabriel Azevedo, de Daniel Montes e de Cavalcanti, o grupo criou duas formas distintas de compor. Os dois primeiros, por exemplo, preferem trabalhar frente a frente, usando o contato direto para escrever letras e melodia. Com o último, no entanto, a distância é primordial para o processo. "Com o outro parceiro, o Daniel, é completamente diferente do que com o Cavalcanti, que me manda a letra para eu fazer a melodia", explicou Azevedo. "A gente senta, abre um monte de cerveja e aí sai. Às vezes, ficamos seis horas seguidas falando besteira e chega uma hora que falamos, 'vamos fazer'."

Cavalcanti explicou que há um motivo muito claro para preferir o trabalho à distância: ele não conseguir sentir intimidade suficiente para compor ao lado de algum colega. "O processo sem o encontro físico perde um pouco do charme da parceria, mas funciona. O problema é que eu tenho uma 'travação' para fazer isso junto. Claro, tem seus lados positivos e negativos, porque, se você perde um pouco da espontaneidade, acaba também tendo um cuidado maior na composição."

Herança

Um dos fatos que mais chamam atenção à primeira vista no Casuarina é a origem de berço de Cavalcanti, filho do cantor Lenine, e de como o grupo lida com isso. Se muitas vezes músicos em seu lugar usariam a fama do pai para atingir o sucesso, ele procurou desde o início evitar tal ligação.

A prova disso é que a primeira participação especial do pai-celebridade ao lado do grupo só se deu na gravação do DVD de estreia dos sambistas, ainda não lançado. "Eu não posso renegar a influência do meu pai, que é a principal referência que tenho de artista, cantor e compositor. Mas a gente sempre teve um processo de total independência e até por isso relutamos em chamá-lo para gravar. Só o fizemos após dez anos de carreira", explicou Cavalcanti. "Além do mais, o Lenine entende muito de samba, sabe tudo do estilo. Então ele tem muito a acrescentar", completiou Azevedo.

Conquista de espaço

Shows, discos, fãs. Uma década de uma bem-sucedida carreira trouxe uma série de satisfações ao Casuarina, mas, sem dúvida, uma das principais foram as longas turnês, que incluem apresentações tanto dentro quanto fora do Brasil - em países como Suécia, Eslovenia, Israel, entre outros. Daqui a três semanas, por exemplo, voltam à Europa, para shows na França e Itália, onde já estiveram em seis ocasiões. "Fomos atrás dessas turnês porque sempre quisemos isso, sempre nos vimos com certa vocação para embaixador", explicou Cavalcanti.

"É muito legal ver que a música consegue superar as barreiras culturais e linguísticas. Na Eslovênia, por exemplo, perguntei em inglês se tinha algum brasileiro lá, e só havia dois: a embaixadora e o motorista dela. Assim, tocamos frente a um público com uma cultura totalmente diferente da nossa e, ao final, fomos aplaudidos por vários minutos - uma prova de que agradamos."

Mas nada para um músico é mais satisfatório do que descobrir que suas canções foram responsáveis por influenciar admiradores a tocar. E, a cada dia, o Casuarina tem mais surpresas em relação a isso. "A gente fica muito surpreso quando viaja pelo Brasil porque, quanto mais longe vamos, mais molecada vem falar que começou a treinar samba por nossa causa", comemorou Azevedo.

O sentimento é tão positivo que Cavalcanti guardou na memória um desses momentos, ocorrido em uma distante cidade da região norte brasileira. "A gente foi tocar em um lugar chamado Parauapebas e chegou um sujeito falando que começou a tocar tantan por minha causa, formou um grupo de samba e toca exatamente nossas músicas. Fiquei bobo com aquilo", afirmou sorridente. "A internet, nesse sentido, é ótima, porque não vai ter uma loja com nosso disco em Parauapebas, então o material consegue chegar de todo jeito ao pessoal de lá."

Dissimulata, por Casuarina:
Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade