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'Sonora Live': Edgard Scandurra garante que, por ele, Ira! não volta

2 jun 2011 - 17h02
(atualizado às 18h34)
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Convidado da semana do Sonora Live, apresentado pela jornalista Lorena Calábria, o guitarrista Edgard Scandurra garantiu que, pelo menos de sua parte, a única possibilidade de o Ira! voltar seria se ele estivesse no "fundo do poço". "Nós contamos uma história bacana em 27 anos e acho que fazer a banda ressurgir poderia estragar isso. Eu não tenho nenhuma vontade ou desejo disso".

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Para quem não recorda, a banda encerrou suas atividades em 2007 após brigas que acabaram migrando das páginas de entretenimento para os cadernos policiais dos jornais.

Segundo Edgard, a separação foi tão conturbada que por muito tempo ele chegou até a evitar tocar as canções consagradas pelo quarteto. "Eu tive um certo trauma do Ira!, uma lembrança que eu queria evitar. Mas depois de um tempo, eu comecei a voltar a ouvir as músicas, a vê-las no You Tube e pensei, 'sabe, essas músicas são minhas também, não vou ficar evitando algo com que fiz história por 27 anos. Além disso, era totalmente cabível que eu voltasse a tocar as músicas que fiz".

Apesar da afirmação firme de optar por não tocar mais na finada banda, o músico de 49 anos, considerado um dos melhores instrumentistas da música pop no País, citou o retorno do Gang of Four como bom exemplo de grupo que voltou a se reunir após muito tempo, o que poderia até abrir precedentes para uma volta do Ira! num futuro distante. "Para eles não foi o fundo do poço pois eles voltaram 20 anos depois e num momento muito bacana. Porque na época que eles tocavam era uma coisa muito moderna e isso ainda é realidade".

Pós-Ira

A falta de desejo de voltar a trabalhar com a banda pode ser facilmente ligada ao retorno que Scandurra teve desde a sua separação. De acordo com ele, a situação acabou gerando um excelente e inesperado feed-back por parte de outros artistas, com o surgimento de convites para diversas parcerias. "Aquilo me abriu muitas portas. Além de poder resgatar trabalhos antigos, como com Arnaldo Antunes, com quem sempre trabalhei, tive a chance de conhecer toda uma nova geração de músicos, como Karina Buhr".

A própria oportunidade de finalmente se dedicar a outros projetos sem precisar considerá-los paralelos foi algo que trouxe muita satisfação ao músico, pois antes precisava ter o Ira! como sua prioridade. "Aquilo me incomodava um pouco, porque tinha sempre essa coisa de que era um trabalho menor. E, com o fim da banda, eu não tenho mais projetos paralelos, tenho um trabalho só com muitos projetos".

Longe do rock

A investida de Scandurra na música eletrônica - com o projeto Benzina, lançado por ele em meados da década de 1990 - causou certa polêmica entre os roqueiros na época de seu lançamento. Contudo, o guitarrista mostrou ter um bom discurso para explicar seu motivo.

Segundo ele, o que o atraiu para o rock foi o caráter tribal do estilo, a identificação entre seus admiradores em relação a diversos aspectos comuns. Mas, após quase duas décadas no meio, essa característica teria começado a ser perdida, e ele só foi reencontrar esse caráter na música eletrônica. "Tem também uma coisa bacana de esse estilo ter sido responsável por apresentar a tecnologia aos outros ritmos musicais".

A identificação com artistas também se mostrou essencial para se arriscar em novos caminhos, já que, para Edgard, não só o movimento roqueiro como as próprias bandas estavam em uma fase "morna". "Eu sempre gostei de trabalhar me inspirando nos meus ídolos. E aí eu fui ver quem eram meus novos idolos naquela época. E eram o Daft Punk, (o DJ) Mau Mau, uma turma eletrônica que eu podia seguir e me inspirar".

De fato, esse foi justamente um dos motivos que usou para justificar a permanência do Ira! como está: uma banda com muita história mas que provavelmente não teria muito mais a acrescentar em seu meio. "Eu acho que, se continuássemos, iríamos entrar nessa zona de conforto, de fazer um disco a cada dois anos e sair em turnê".

André Yung, ex-baterista do quarteto, que participou de parte do bate-papo via webcam, concordou: "tivemos uma grande ruptura, uma coisa de um Peter Pan que a gente tende a carregar quando uma banda fica por muitos anos na estrada. É difícil levar o trabalho sem se prender a essa juventde. E, para nós, essa ruptura foi provavelmente a coisa mais importante que aconteceu com o fim da banda".

Mudança de Comportamento, por Edgard Scandurra:
Fonte: Terra
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