"Poupei anos de análise com o disco", diz líder do Vanguart
Líder da banda de folk rock matogrossense Vanguart, Helio Flanders afirmou durante sua participação no Sonora Live desta quinta-feira (1) que escrever o novo disco do grupo, Boa Parte de Mim Vai Embora, foi um processo muito emocional, principalmente pelo difícil momento vivido tanto por ele quanto pelos integrantes do sexteto na ocasião.
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"Poupei uns dois anos de análise nesse disco", explicou, sendo questionado na sequência pela apresentadora Lorena Calabria se o álbum teria como foco principal as mulheres, já que anteriormente havia citado sua saída de um relacionamento longo. "É um trabalho sobre reflexões, sobre o recomeço. Claro, sempre que a gente vislumbra uma nova vida, já o faz imaginando uma mulher ao lado".
A mudança de vida dos integrantes do Vanguart - naturais de Cuiabá e hoje cidadãos paulistanos - para se estabelecer na cena musical pesou bastante para a introdução de letras de caráter profundo no trabalho, uma das principais características do conjunto. "Nós largamos muita coisa para seguir essa carreira. Família, por exemplo. As namoradas, então, todas as que eram de lá (Cuiabá) acabaram indo para o saco". Ainda assim, garantiu não ter qualquer arrependimento pela escolha. "Tenho certeza de que, se tivessemos de fazer tudo de novo, faríamos".
Considerada por muitos críticos como precursora do estilo folk no Brasil, fato que ajudou a fazer surgir nomes como Malu Magalhães anos depois, a banda explicou ser na verdade mais influenciada atualmente pela literatura do que por algum músico ou estilo específico. "Preciso ler para escrever, é fundamental. Tem até algumas coisas copiadas mesmo de livros", disse o bem-humorado Helio.
Nova língua
Inicialmente mais uma banda do estilo que cantava suas músicas em inglês, o Vanguart logo percebeu ser através da língua portuguesa a única chance para realmente estourar no meio - tanto que o primeiro disco só veio após tal mudança. O líder do grupo, no entanto, descartou que a passagem tenha sido forçada, citando a canção Semáforo, a primeira cantada em língua nativa, como resultado de um processo natural.
"As pessoas pediam muito, porque gostavam das letras em inglês e queriam ouvi-las em português também. Só que a gente precisava achar o discurso para fazer isso, o que não foi fácil", explicou. "Eu precisava encontrar a veia para fazer as músicas soarem bem também em nossa língua".
Lobão e parcerias
Helio não poderia deixar de falar sobre Lobão, hoje um grande amigo da banda, e do disco A Vida é Doce, lançado em 1991 pelo cantor. Segundo ele, o trabalho ainda se encontra entre os que mais o influenciaram na música. "Eu nunca mais fui o mesmo para ler poesia. Mudou a minha vida. Quando ouvi, pensei, 'preciso ser amigo desse cara!'".
Sobre o grande número de parcerias em que tem se envolvido ao longo dos anos, gravando faixas ao lado de músicos dos mais variados estilos da cena independente brasileira, Helio disse não se incomodar com a possibilidade de ser visto como "arroz de festa", como ele próprio classificou. "Eu acho que, estrategicamente, mercadologicamente, é interessante não participar de nada. Há artistas que, se você olha de dez anos para cá, não participaram de nada, e talvez seja bom para eles. Mas eu não tenho problema com isso. A gente vive num 'rolê' que é muito verdadeiro. Se o cara me liga, fala que me quer gravando com ele e me mostra algo que me agrade, eu gravo".
Durante a participação, a banda ainda apresentou sua mais nova integrante, a violinista Fernanda Kostchak, que conheceu o grupo durante um projeto pautado em canções de Bob Dylan. Simpática e sorridente, ela se disse realizada com o convite para fazer parte do agora sexteto. "Foi uma grande surpresa. Eu tinha um monte de linhas de violino que não sabia onde usar e a grande surpresa foi finalmente ter encontrado um lugar para tocá-las", afirmou.
Na próxima quinta-feira (7), o Sonora Live recebe o músico Marcelo Jenessi.
