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"É uma parceria mesmo", diz Marcelo Nova sobre tocar com filho

10 mai 2012 - 16h33
(atualizado às 18h06)
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Convidado do Terra Live Music desta quinta-feira (10), Marcelo Nova disse que tocar com o filho Drake, 19 anos, é uma parceria musical e não uma ajuda ao jovem guitarrista. Quebrando o formato comum de banda, pai e filho se apresentaram com violão e guitarra apenas.

Depois de abrir com Coração Satânico, com Drake conduzindo uma levada mais hillbilly, Marcelo Nova disse por que é um pai coruja. "Ao contrário da maioria dos meninos guitarristas, digo menino porque ele é quase um colorido, que estão interessado em solos à la Joe Satriane, Drake sempre procurou uma textura sonora que adere a música e ao meu texto. Se o texto é tenso, ela vai procurar uma coisa que se aproxime ou complete isso. É uma parceria mesmo" , explicou.

O músico também comentou que foi vantajoso para os dois acompanhar a evolução musical do filho. "Não é como acabar um show, guardar a guitarra no case e ir cada um para um lado. A gente tem a oportunidade de discutir o que deu certo ou errado depois".

Drake também é guitarrista da banda do pai e esteve presente no show no festival Lollapalooza. "Nós sempre damos um jeito de entrar em qualquer tamanho. A gente toca em teatro, casa de show e até no Lollapalooza", disse Marcelo Nova.

A segunda música foi Faça a Coisa Certa, que manteve a levada de blues mais sujo, como George Thorogood. Marcelo Nova, na sequência, lembrou a juventude em Salvador, quando descobriu o rock. "Eu não gostava de futebol e ficava no meu quarto com meus discos e livros. Só ouvia rock inglês e americano porque não me identificava com a música brasileira. Aquele negócio de terrinha, barquinho e solzinho que se põe é muito chato. Era tudo no diminutivo. Eu tinha 19 anos e queria algo no aumentativo, cacete!". O músico contou que a reclusão o fez prestar atenção na importância das letras da música.

Sempre muito prolixo e polêmico, o músico baiano também comentou sobre o movimento punk e sua participação no movimento no Brasil. "O punk no sentido de movimento cultural eu nunca gostei. Para mim é um bando de cara com coturno preto. Mas essa coisa de pegar os instrumentos e botar para tocar - coisa que vi quando passei três meses em Nova York, onde trabalhadores comuns se juntavam para tocar depois do serviço -, isso sim me chamou a atenção".

Ainda antes do intervalo veio a mais calma, mas não menos blues, Quando Eu Morrer, do disco A Panela do Diabo. Depois, o músico comentou sobre a amizade com Raul Seixas.

"O Camisa de Vênus foi fazer um show no Circo Voador, com o Legião Urbana em 1983, e o Raul Seixas apareceu lá, com botas de caubói e cabelo desgrenhado, para nos conhecer. Eu, que sempre fui uma grande fã, tive como única reação chama-lo para tocar. Tocamos uns rockbillies clássicos, tipo Jerry Lee Lewis, e trocamos endereços. Um dia, depois, ele apareceu lá na minha casa na Vila Nova Conceição, em São Paulo, com sua mulher e com o guitarrista Rick Ferreira mais a sua mulher. Foi ali que viramos amigos e que depois deu naquela turnê de 50 shows e no disco", contou à Lorena Calábria. "Mas acho que o que nos juntou foi essa coisa do texto, sempre fomos muito preocupados com as palavras e foi esse elemento que nos aproximou".

A quarta música foi Eu Vi o Futuro, do disco Quem é Você, do Camisa de Vênus. A faixa foi composta em parceria com o baixista Rogério Santana.

Marcelo Nova também contou como surgiu a vontade fazer música e montar o Camisa de Vênus. "Era para esculhambar a cultura baiana vigente. Tinha alguns amigos negros, que não tinha nem onde cagar em casa, e quando iam tocar subiam no trio elétrico e enaltecia as belezas da Bahia. Isso me incomodava muito, colocando aquilo como a única forma de expressão permitida para eles".

Ele também contou sobre o sucesso da banda nas rádios e TVs nos anos 1980, mesmo com suas composições ofensivas para a sociedade conservadora da época. "Eu era jovem e arrogante e quando Eu não matei Joana D'Arc entrou na rádio eu falei que já não era sem tempo. Mas eu nunca fiz música pensando no próximo e nunca me senti à vontade preso em dogmas, por isso que nunca tentei entrar nessa coisa de gueto. Eu não me importo se minha música é ouvida por punk, dona de casa ou conservador de direita".

Com o tempo estourado e falando mais e mais, o músico baiano respondeu as perguntas de fãs e contou que um disco com 12 faixas inéditas já está sendo preparado. Antes de encerrar com Rock n' Roll, Marcelo ainda deixou um recado aos novos roqueiros.

"Meio que parafraseando Nelson Rodrigues, quando lhe pediram para dar uma mensagem aos jovens, aqui vai: jovens, leiam e leiam. Porque quem não sabe ler não vai saber escrever".

Coração Satânico, por Marcelo Nova:
Fonte: Terra
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