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Em forma, Plant surpreende com blues e usa clássicos do Led Zeppelin

18 out 2012 - 22h43
(atualizado em 19/10/2012 às 07h26)
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André Naddeo
Direto do Rio de Janeiro

Quem esteve na noite da última quinta-feira no ginásio do HSBC Arena, na zona oeste do Rio de Janeiro, saiu de lá após uma hora e quarenta e cinco minutos de show, provavelmente, com duas sensações. A primeira é a de que pode ter faltado algo, e aqui entra como exemplo a interpretação do hino Black Dog: melódica enquanto o público ansiava pelos timbres ainda em forma, por mais que fosse pública a informação de que o tom da noite seria esse. A segunda, porém, tem um triunfo infalível: ver ao vivo Robert Plant cantando clássicos como Going to California, Gallow's Pole, que se envolvem naturalmente com o estilo da banda que o acompanha, The Sensational Space Shifters, além do fechamento com chave de ouro com um hino cantado em uníssono como aconteceu com Rock n'Roll, é como um registro curricular para um fã de Led Zeppelin. O Terra transmite ao vivo, na segunda (22), o show do cantor no Espaço das Américas, em São Paulo.

Após 16 anos de sua última visita ao Brasil no extinto Hollywood Rock, ao lado de Jimmy Page, o lendário ex-vocalista da banda que revolucionou o rock na década de 70 mostrou em sua primeira apresentação da turnê brasileira que não têm razão os que o criticam por sua voz estar desgastada. Robert Plant controlou o alto nível musical de sua banda multi-instrumentista, e chegou até a pedir mais empolgação ao público, que parecia não estar muito bem informado sobre o que seria lhes presenteado, já que a inserção de elementos do blues, música africana e até instrumentos de som indiano deu um tom mais leve ao conjunto. De qualquer forma, foram sete músicas do Led Zeppelin, um registro nostálgico e tanto.

O repertório escolhido por Plant para sua primeira apresentação da turnê brasileira, que passará ainda por outras cinco capitais, inclusive em São Paulo, com transmissão ao vivo pelo Terra no próximo dia 22, seguiu em parte o que mostrou ao público em suas apresentações mais recentes, nos EUA, como ocorreu em agosto no Mississipi, terra da qual hoje faz referência ao blues que escutava quando criança, elegendo John Mayall como um dos ¿monstros¿, como mencionou, de sua efervescência cultural na juventude. As modificações serviram de bônus para quem pagou ingresso para ver apenas o vocalista do Led Zeppelin: Going to California, Ramble On e Rock n'Roll não estavam previstas tendo em vista os últimos setlists divulgados.

Com sua tradicional cabeleira loura, calça jeans justa e camisa preta de manga longa, o ex-parceiro de Jimmy Page deu largada para a turnê brasileira deixando bem claro ao público brasileiro seu estilo atual. Com Fixing to Die, do lendário Washington Booker White, mais conhecido como Bukka White, o blues é uma espécie de explicação para a formação do próprio Plant e a prova de que quem foi ao ginásio para o concerto, teria que esquecer, pelo menos por algumas horas, os rifes de Jimmy Page. Isso tudo por mais que a banda acompanhasse a agressividade que em alguns momentos se mostravam necessários.

Robert Plant durante show nesta quinta-feira (18), no HSBC Arena, no Rio de Janeiro
Robert Plant durante show nesta quinta-feira (18), no HSBC Arena, no Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel / Terra

Do álbum Contry Blues, de 1959, muito antes do Led Zeppelin ganhar o mundo, a canção já foi gravada também pelo contemporâneo Bob Dylan, em seu disco de estreia, três anos depois, e pelo próprio Plant, obviamente, em 2002, em carreira solo com seu Dreamland.

Na sequência, Tin Pan Valley é uma espécie de ¿ode cínica¿ de sua própria carreira. A música, do álbum Mighty ReArranger, de 2005, quando o ex-Led Zeppelin tocava ainda com a banda Strange Sensation, mostra em dez palavras um Plant, se não deprimido, ao menos saudoso: ¿I live on former glory, so long ago and gone¿. Na tradução, ¿eu vivo de glórias passadas, de muito tempo atrás e que já se foi¿. Era tudo o que a plateia não pensava no momento, aguardando ansiosamente por sua cota garantida de Led Zeppelin.

Do século XXI para um regresso quase que imediato aos anos 20. E mais blues com 44, ou 44 blues, como ficou conhecido o estandarte do gênero, de origem desconhecida (sabe-se que Lousiana foi o seu berço, mas não de qual punho), com arranjo definitivo de Roosevelt Sykes, que popularizou de vez a canção que Plant trouxe para si desde que assumiu tal incorporação às suas apresentações.

Plant perguntou: "Vocês estão bem aí?". Com a resposta positiva, lançou na quarta música da noite, enfim, o primeiro "ápice" para o seu fã que pagou até R$ 400 pela apresentação. Friends é a segunda faixa de Led Zeppelin e foi facilmente reconhecida pelo público, mais aliviado. Vale a nota de que esta canção, por mais que tenha tido ao vivo elementos indianos visíveis, foi a primeira em que o grupo britânico adotou instrumentos de corda que obrigaram um arranjo diferenciado e que mais tarde se tornaria marca registrada.

Black Dog

, posteriormente, o primeiro grande hino esperado da noite, só foi reconhecida após algum tempo, e causou estranheza e gritos de "aqui é rock and roll" ao impor a suavidade, quando o esperado era um vocal acachapante. A histórica música do disco

Led Zeppelin IV

e que ganhou tal alcunha em função do labrador preto que entrava incessantemente no estúdio durante as gravações e nada teve a ver, porém, com sua letra, possui certamente um dos dez rifes mais famosos do gênero na história.

Plant não fez por menos e, na sequência, executou com mais agressividade Bron-Y-Aur Stomp, do álbum III do Led Zeppelin, e ainda surpreendeu com Ramble On, canção do disco II que com ácida performance foi um dos pontos altos da noite. "Está tudo tão bem aqui de cima", satisfez-se o dono da noite.

Sim, porque se invocar John Mayall com I'm Your Witchdoctor, lembrando ainda que os The Bluesbreakers também ganhariam sua pseudo homenagem, voltou a deixar um pouco mais morna a apresentação, Robert Plant provou que tinha o público nas mãos ao encerrar com uma trinca de ases o seu generoso bis. Primeiro com Going to Califórnia, e depois com Gallow's Pole, que se não tem a fúria do refrão final, se encaixa perfeitamente na execução multi-instrumentista do The Sensational. Guardadas as devidas proporções, deu até um ar de Kashimir. Sem orquestra, claro.

Por fim, Rock n'Roll, ironicamente, fez os fãs soltarem um grito entalado na garganta justamente no refrão que diz tudo: Let me get back, it´s been a long lonelly, lonelly, lonelly time. Na tradução livre: tem sido uma espera longa. Em uma hora e quarenta e cinco minutos, ele começava a matar uma saudade de longos 16 anos. "É incrível, 44 anos atrás, faz muito tempo", exclamou Robert Plant sobre a data em que a música foi composta, antes de dizer o tradicional obrigado, ir embora, e lembrar que a história do rock esteve presente naquela noite.

Fonte: Terra
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