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Sertaneja compara carreira a empresa e critica vulgaridade no estilo

Nova aposta do gênero universitário, cantora Suellen Santos investe na mistura de canções românticas e batidões em seu primeiro DVD ao vivo

19 jul 2013 - 19h22
(atualizado em 22/7/2013 às 11h51)
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<p>Com DVD ao vivo recém-lançado, Suellen Santos pretende atingir fãs que não conseguiu com disco anterior</p>
Com DVD ao vivo recém-lançado, Suellen Santos pretende atingir fãs que não conseguiu com disco anterior
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

O grande público ainda não conhece seu nome, muito menos seu rosto. O primeiro disco, lançado no ano passado, ainda não obteve grandes retornos. Segue distante de Paula Fernandes, a grande representante feminina do estilo. Mas, se depender do atual investimento e do tratamento profissional dado à sua carreira, em breve Suellen Santos pode mudar essa realidade. Apoiada pela família, empresários e por uma equipe experiente nos bastidores, a cantora de 27 anos está decidida a dedicar a vida à música, calcada no fenômeno sertanejo universitário. E, ao menos na parte do planejamento, tudo parece caminhar bem para isso.

"Quando optei pela música, meu pai falou que ia lidar com ela como se fosse uma empresa mesmo. Se eu fosse dentista, por exemplo, ele me ajudaria a montar um consultório. Foi o que fez com meus irmãos, um advogado e uma arquiteta. Mas, depois do investimento inicial, com aulas e para gravar os discos, eu tinha que começar a dar lucro e viver disso", explica ao Terra a cantora, assumindo usar a formação e experiência como administradora para levantar a carreira. "Hoje tenho meus empresários, que me ajudam com tudo por uma porcentagem, e meu pai. Mas tenho que dar lucro, como uma empresa. Se não conseguisse pagar minhas contas, eles já teriam saído do negócio com certeza."

O encontro é marcado para a fria tarde de segunda-feira (15), na casa da cantora, localizada em um luxuoso condomínio fechado em Barueri, na Grande São Paulo. No momento da chegada da reportagem, Suellen se despede da equipe de uma revista que há pouco realizara um ensaio de fotos, com diversas trocas de roupa. O Terra é levado a uma área externa da residência, ampla e confortável, com deck com piscina e jacuzzi e área coberta com pequenas mesas circulares . "Está um vento gelado, vou só subir para colocar algo mais indicado", diz a cantora, desconfortável com a blusa que deixa a barriga à mostra, usada no trabalho anterior. Enquanto isso, assessores apontam à mesa e oferecem café, doces e pães de queijo, servidos por uma cozinheira.

A equipe para a entrevista - que, além das duas assessoras, é formada por um produtor e um maquiador -, elogia a cantora pela simplicidade e talento. Eles observam o fotógrafo e lembram que ela fará um novo ensaio de fotos, mais uma vez com conjuntos diferentes, escolhidos a dedo pela personal stylist que a acompanha há dois anos, também responsável pelo guarda-roupa de Michel Teló. Suellen retorna minutos depois. "Eu acho importante ter uma porque você tem a responsabilidade de mostrar novidade", justifica, sorridente. Ela recebe um rápido retoque nos cabelos ondulados, jogados um pouco mais para os lados pelo maquiador, e arruma a camisa preta de manga comprida que usa com um shorts curto de cor clara.

"Eu gosto muito de moda, mas, por mais que consiga me virar no dia a dia, não estudei isso, não sei tudo. Então a (personal stylist) Malena (Russo) consegue me ajudar nesse aspecto pra eu não dar uma de louca na minha forma de me vestir", diz, sem conseguir controlar a risada. "Acho que o artista tem que ser artista como um todo, desde no cantar até na atitude, no jeito de se vestir e tudo o mais. É um conjunto. Claro que não é só a beleza que vai te segurar. Você precisa atrair, mas depois tem que fazer jus à atenção recebida", pontua.

<p>Cantora durante entrevista ao Terra, na segunda-feira</p>
Cantora durante entrevista ao Terra, na segunda-feira
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

O planejamento, portanto, não pode se limitar ao visual. Estudante de canto há 11 anos, Suellen sabia o que queria fazer da vida tão logo terminou o Ensino Médio. Aos 17, quando já cantava regularmente no hotel fazenda da família, decidiu prestar vestibular para faculdade de Música. O pai não deixou. Queria a filha estudando algo que desse "mais futuro". Ela obedeceu e foi para a Administração. Formou-se em 2007, mas o sonho se manteve. Logo veio a oportunidade: conheceu uma empresária do Tocantis e se juntou a um grupo local de forró, ganhando um pouco mais de experiência com shows pela área, além de Mato Grosso, Pará e outros Estados, principalmente do nordeste.

Depois de dois anos de contrato, voltou a São Paulo, desta vez para emplacar o seu nome no mercado. Escolheu o sertanejo universitário - pelo gosto de berço na música caipira e pelo fato de o gênero ter "dado asas à imaginação aos músicos, pois permite inserir ritmos diferentes, como arrocha, batidão, pop, mas com a 'pegada' do sertanejo". "Foi uma escolha baseada na minha educação com meus pais, no gosto por Shania (Twain), na minha paixão pela viola, pela sanfona. Não dava muito pra fugir do sertanejo", explica. "É preferível ter o tiro direto no estilo que você gosta, até porque, por exemplo, o sertanejo nunca foi popular como está, então ele pode cair, assim como foi com o axé, que já teve seu auge. É perigoso a pessoa entrar em um estilo pelo lado mercadológico, porque o mercado muda o tempo todo."

O sertanejo universitário se notabilizou por incorporar o pop à música caipira, tornando-o um estilo amplo em termos de influências e temáticas. Nele, quase tudo pode ser musicalmente encaixado. Mas o boom só veio realmente a ocorrer em 2011, quando Michel Teló levou a milhões sua Ai Se Eu te Pego, canção com típica letra moderninha que marcou o gênero por abordar o universo da noite, muitas vezes de forma sexualizada e, às vezes, machista. Faixas como Camaro Amarelo, de Munhoz e Mariano ou Fiorino, de Gabriel Gava, que exaltam como mulheres se jogam sobre os homens quando motorizados com carros importados, exemplificam bem essa realidade. E desagradam Suellen, defensora de temas mais românticos.

"Acho que se perdeu isso de falar de mulher de um jeito mais carinhoso, mais centrado. Acho que você pode falar de mulher sem ser vulgar", ela opina. "Eu não acho legal levantar bandeira, nem pra homem nem pra mulher. Não vou fazer uma música falando que todos os homens vão pagar pau pra mim, que sou sensacional, que os homens são todos cafajestes. Da mesma forma o contrário. Tenho uma música, a Pegada Violenta, que também é simplesmente para entreter, música para a balada, como o universitário faz tão bem. Mas é no fundo uma faixa de amor, de relação entre duas pessoas. Tem como fazer essas músicas sem denegrir a imagem da mulher. Acho que é a única coisa que poderia mudar no estilo, porque não é por aí."

Assim, com ideais formados para fazer o nome no estilo, Suellen focou bem em seus trabalhos. No ano passado, o primeiro disco de estúdio, batizado com seu nome, teve produção de Dudu Borges, um dos grandes responsáveis pela proliferação de hits no estilo. Suellen - Ao Vivo, o primeiro DVD, lançado no mês passado, trouxe a assinatura de outro gigante do gênero, o produtor Cesar Augusto, renomado nas décadas de 1980 e 1990 por trabalhos com Chitãozinho & Xororó e Zezé Di Camargo & Luciano. Além da escolha e arranjos das músicas, ajudaram a construir um pouco a cantora para encarar o sonho de artista.

<p>Produção de seus discos foi de Dudu Borges e Cesar Augusto</p>
Produção de seus discos foi de Dudu Borges e Cesar Augusto
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

"O Cesar me deu todas as dicas de palco, como expressões faciais, interpretações ao público, acabou sendo como um pai para mim. O Dudu me ajudou muito com o jeito certo de cantar, com a forma de expressar as vogais, o 'a' o 'e'", Suellen enumera. "E teve uma coisa ainda que coincidiu, que os dois me falaram, e com certeza foi a mais importante de todas: passar a verdade, acreditar. Essa é a palavra certa". Ela exemplifica: "se você está na balada e quer pegar a mulher do lado, acredite que vai pegar; se fala que vai morrer se perder seu amor, acredite que vai morrer". E ri.

Ainda assim, apesar de todo o investimento e das escolhas aparentemente certeiras para realizar seus planos, ainda há muito chão para isso, muito trabalho e, claro, um hit. Além disso, por passos talvez mal planejados, neste início de carreira Suellen esbarrou em um rótulo considerado por ela como pouco agradável e que terá de ser superado de cabeça erguida caso realmente queira viver de sua música: o famoso "pai-trocínio", segundo o qual certas carreiras só são lançadas graças a pesados investimentos de família. 

De fato, a primeira vez que Suellen ganhou ampla divulgação na grande mídia foi por um motivo totalmente avesso à sua música, quando Michel Teló foi convidado a gravar um videoclipe em sua casa, no ano passado. Na ocasião, diversos sites e portais divulgaram fotos e entrevistas com a cantora, que exaltou o momento com gosto e carinho. Aliada à abertura das portas da residência à imprensa em 2013 para promover o novo disco, a receptividade acabou se provando um tiro no pé para eliminar o preconceito, já que referências sobre seu dinheiro se tornaram comuns entre os veículos. 

Assim, se por um lado o atrativo da residência foi positivo, logo a paulistana constatou que existia também um lado bastante negativo em toda a publicidade. Tornou-se, enfim, um incômodo. "Essa coisa de ostentação não faz parte do cotidiano da minha família", lamenta a cantora. 

Realmente, tirando toda a produção que engloba personal stylist e roupas da moda, o estilo de Suellen é o de uma jovem simples e cheia de vida. Sorridente, de voz mansa e agradável, ela conversa abertamente sobre qualquer assunto, com discurso articulado e raciocínio rápido. Gosta de agradar os convidados, os mantêm à vontade. Apresenta com orgulho a mãe; deixa claro o mesmo sentimento ao elogiar o pai, um exemplo para sua vida. Enfatiza sobretudo a simplicidade e origem da família, vinda do interior da Bahia. "Eles são pessoas muito simples e muito boas. E a Suellen puxou essa característica. Com ela não tem tempo ruim, topa tudo. É a mais humilde de toda a equipe", comenta um de seus produtores mais de uma vez.

<p>Suellen Santos posa na área externa de sua casa, em SP</p>
Suellen Santos posa na área externa de sua casa, em SP
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

"Uma coisa é, poxa, eu querer lutar para ser famosa para aparecer; outra é eu querer cantar, conseguir pagar minhas contas, viver a minha vida", Suellen continua. Ela entristece com o assunto, fala em tom de lamento. Afinal, para ela, que tanto vê a carreira como uma profissão como outra qualquer, na qual sempre se almeja um grande futuro, não faz sentido ser julgada pelas vantagens de ter um apoio financeiro tão necessário a tantos em determinado momento.

"Quero ter sucesso no meu trabalho como se eu fosse uma arquiteta, dentista, jornalista. Tenho o maior carinho pelos meus pais terem me proporcionado um apoio que tantos não têm, mas quero conquistar meu espaço independente deles", explica. "Acho que isso acontece em tantas famílias, então por que comigo seria diferente?" 

Fonte: Terra
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