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Corgan: "sempre acho que vou levar uma facada fora do palco"

Antes de vir ao Brasil, o músico conversou por telefone sobre a apresentação que fará no Planeta Terra e suas inseguranças

13 nov 2010 - 11h26
(atualizado em 4/8/2015 às 13h37)
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"Estou bem, mas sempre há muito trabalho". Segurando as rédeas do Smashing Pumpkins desde o final da década de 80, Billy Corgan segue firme e forte na liderança da nova formação do grupo, que é atração principal do Planeta Terra Festival 2010, que acontece no dia 20 de novembro, no Playcenter, em São Paulo. Depois de muitos atritos com os ex-compaheiros de banda, ele diz que confia nos novos integrantes. "É estranho dizer isso, mas sempre quero confiar nas pessoas que estão comigo. Mesmo assim, tenho um sentimento de que vou descer do palco e levar uma facada nas costas", disse em entrevista ao Terra.

Nicole Fiorentino e Billy Corgan vêm ao Brasil com o Smashing Pumpkins
Nicole Fiorentino e Billy Corgan vêm ao Brasil com o Smashing Pumpkins
Foto: Getty Images

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Billy Corgan ainda falou sobre a expectativa de vir ao País: "Eu amo o Brasil e é um dos melhores lugares para se tocar. Ninguém da banda esteve aí. Eu fico falando para eles: 'se preparem para essa aventura'". O músico prometeu incluir em seu setlist canções de todas as fases dos Pumpkins, mas exaltou a importância de se fazer músicas novas e até alfinetou grupos dos anos 90 que voltaram para turnês nostálgicas. "É um direito se reunir para tocar para os fãs, por outros motivos ou que seja só para ganhar dinheiro, mas eu não gosto pela 'saúde' da música", afirmou. Mesmo assim, o músico não se mostrou muito contente com a geração atual do rock, criticou a indústria e exaltou a cena alternativa. "Tivemos muito sucesso fazendo música muito estranha. Não é música normal", explicou.

Confira a entrevista com Billy Corgan:

Terra - Como está se sentindo para o show no Brasil?

Billy Corgan - Eu amo o Brasil e é um dos melhores lugares para se tocar. Ninguém da banda esteve aí no Brasil eu fico falando para eles: "se preparem para essa aventura".

Os fãs brasileiros são diferente do resto do mundo?

São muito apaixonados. Eles gostam a música de coração. Isso dá pra ver. Os fãs dos outros lugares podem ser barulhentos, mas a gente consegue sentir muito amor vindo da plateia. É só ver quando bandas gravam seus DVDs no Brasil. É a plateia que o músico sonha em ver quando você é jovem e imagina que tem uma banda. A coisa que você menos quer ver alguém com os braços cruzados.

E como está a turnê e a química da banda no palco?

A turnê tem ido muito bem. É uma coisa muito equilibrada entre os músicos. Nossa comunicação é boa, todos são responsáveis e todos se respeitam bastante. É um ambiente feliz e positivo. Para mim é muito divertido. Eu confio neles. É estranho dizer isso, mas sempre quero confiar nas pessoas que estão comigo. Mesmo assim, tenho um sentimento de que vou descer do palco e levar uma facada nas costas.

Você já preparou o setlist para o show?

É uma mistura do novo e velho. Vamos tocar canções de todos os discos, menos do primeiro. Tentamos um equilíbrio de todos os períodos da banda com algumas músicas novas.

O que os fãs devem esperar?

Nós não temos um "show". Nosso show é tocar. Se ele for bom é porque tocamos bem e porque tivemos uma conexão com o público. Mas não há nada de espetáculo. Não há porcos voadores (risos).

Muitas bandas dos anos 90 se reuniram recentemente para turnês. Você gostou dessa revitalização da década?

Eu não gosto. Acho que se uma banda se junta, ela deve fazer músicas novas. É um direito se reunir para tocar para os fãs, por outros motivos ou que seja só para ganhar dinheiro, mas eu não gosto pela "saúde" da música. É preciso dizer que o novo é mais importante que o velho. O velho sempre está lá para ser visitado. Sou fã um de Frank Sinatra, por exemplo. Gosto de ouvir quando ele era jovem e quando ele era velho cantando bem diferente. Como artista, quero que todos me ouçam em diferentes momentos da vida. Não quero que só ouçam o Billy de 25 anos. Agora tenho 43 anos. Se você é um artista e só tem uma coisa a fazer, como malabarismo, é diferente. Eu gosto de me expressar através da minha música. Tem vezes que faço um bom trabalho e tem vezes que não, mas mesmo assim isso representa como músico. Eu acho besteira essa história de que "só a paixão importa" e nada novo tem valor.

Quando falamos de Smashing Pumpkins para outras bandas, alguns músicos definem o grupo como "estranho e legal". Você concorda?

Acho muito preciso. O Smashing Pumpkins é uma banda muito diferente. Tivemos muito sucesso fazendo música muito estranha. Não é música normal. É só ver as bandas que são populares agora: Green Day, Nickelback...Isso não é música estranha. Isso é popular e eles fazem isso muito bem. Minha música muda sempre e meus interesses também. Temos eletrônico, metal, gótico, alternativo, acústico e eu tenho outras influências. Eu tenho ouvido até fado. Sou um grande fã de Amália Rodrigues. Até esse tipo de sentimento do fado eu tento colocar na minha música.

O que acha da indústria musical? Algum palpite sobre onde tudo isso vai parar?

A indústria musical está quebrada e não quer admitir. Eles ficam cruzando os dedos esperando um milagre. O passado nunca vai voltar. Mudou para sempre e acho que para melhor. Para mim, os fãs merecem ouvir a música do jeito que quiser: telefone, laptop ou televisão. Pouco me importa. Acho que eles precisam receber música por um preço justo. Quando falo justo, um preço justo: não muito caro, não muito barato. Enquanto esse sistema não existir, o aspecto musical não pode ser interferido pela indústria. Os negócios estão comprometendo a parte artística da música. Isso não só machuca a música, como também a cultura. Você pode pegar qualquer parte da música desde a criação do disco. Anos 50, 60, 70, 80 ou 90. Você tem tantos álbuns importantes que é impossível contar. Recentemente, não há mais tantos discos importantes porque o público não está interessado e a indústria está só preocupada e manter seu negócio. Isso tem feito a música ficar cada vez mais estúpida. Temos uma indústria musical estúpida que vende lixo. Todo mundo vende lixo. Mas no final do dia, quem funciona é o marketing e o mundo da moda. Nós perdemos as influências. Os maiores artistas do mundo não acham mais o seu público, como um Bruce Springsteen da vida. Isso não é um acidente. Isso é um problema.

Você não gosta da música que é feita hoje em dia?

No geral não. Não é porque acho que é ruim. Na minha idade, se falo isso acham que é só porque sou velho. Eu digo para meus amigos: "não é que não existam músicas boas, não existem músicas ótimas". Não surge nada grande mais. Um ano são os Beatles, depois The Cure e depois o Nirvana. Onde estão essas bandas? Onde estão os artistas que mudam o mundo? Mudam o jeito que entendemos a música? Mudam a moda? Onde estão? Há uma razão para que eles não existam. Claro que existe talento, mas esse talento preciso ser colocado em uma situação para ter sucesso. Agora, se você coloca esse artista desde o começo para se comprometer com o mundo pop e virar um ícone dos Estados Unidos, claro, você não terá o próximo John Lennon. Sabe por que? Porque o próximo John Lennon não vai fazer isso. Ele irá, sei lá, para a faculdade.

Fonte: Terra
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