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Cone Crew celebra sucesso, defende maconha e diz já poder pagar motel

19 set 2012 - 12h44
(atualizado às 14h29)
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Nathália Salvado

Dois álbuns lançados, quatro indicações ao VMB 2012, milhares de fãs e seis anos de carreira. Com a volta do rap/hip hop nacional aos holofotes - destacando o sucesso digno de reconhecimento de Emicida, Projota e Criolo -, nada mais natural que fosse a hora do público brasileiro se render e "chamar os mulekes" Cert, Rany Money, Batoré, Maomé, Ari e Papatinho para o centro do palco. Juntos, eles formam a Cone Crew Diretoria. "As influências musicais da maioria dos jovens já estão se destacando há muitas gerações ou até já estão mortos", afirmam em entrevista exclusiva ao Terra sobre a influência no público jovem.

O primeiro clipe do grupo, o independente Chama os Mulekes - que tem a participação dos amigos Mr.Catra, Tico Santa Cruz, Marcelo D2, entre outros - já ultrapassou 6 milhões de visualizações no Youtube e mudou de vez a vida dos amigos cariocas. "As mulheres adicionam mais no Facebook e agora ando de táxi sem que os motoristas achem que vou roubá-los. E claro, sou eu que pago o motel", disse Batoré, que, segundo o grupo, se chama assim porque jogava futebol com o mesmo jeito de andar do personagem de A Praça É Nossa, vivido pelo humorista Ivanildo Gomes Nogueira.

Sinceros, falam o que pensam e defendem para valer as ideias que trazem nas músicas, inclusive a legalização da maconha. Em Sem a Planta, um trecho diz: "eu não sei minha mãe, pra mim é só uma planta com folha e flor que me deixa tranquilão/E sem a planta.../Sem a planta, sem a planta não dá mais pra viver em paz". "Nós somos usuários, e defendemos o direito de liberdade do uso e do cultivo, sendo para uso têxtil, medicinal ou recreativo", explicam, sem fugir de resposta alguma. Afinal, a Cone (Com Os Neurônios Evaporando) é uma paródia de C.O.R.E., a coordenadoria da Polícia Civil do Rio de Janeiro, e traz polêmica até no nome.

Confira a entrevista completa:

Terra - Vocês receberam quatro indicações para o VMB. Como vocês encaram serem considerados uma revelação do cenário musical brasileiro?

Cone Crew Diretoria - Ano passado já estávamos fazendo shows pelo Brasil e fomos "esquecidos" pela mídia. Continuamos trabalhando, até que chegou um ponto em que a bomba explodiu e conseguimos o reconhecimento que estamos tendo agora

Terra - Vocês têm uma música na Malhação, em parceira com o D2. Vocês chegaram a ouvir a música na novela? Como foi?

Cone Crew - Ainda não. Estamos na estrada o tempo todo e um pouco por fora do que está rolando na TV no momento.

Terra - A banda tem muitos fãs adolescentes. Como vocês encaram o fato de influenciar uma geração mais nova?

Cone Crew - Achamos muito importante. Afinal de contas, o mundo carece de música boa! As influências musicais da maioria dos jovens já estão se destacando há muitas gerações ou até já estão mortos.

Terra - Apesar do grupo ser relativamente recente, surgiu em 2006, vocês já têm muitos fãs e estão consolidados no cenário do rap. Como é a relação com o público, o reconhecimento nas ruas? Já se acostumaram?

Cone Crew - É muito maneiro. Hoje, é difícil sair na rua e não ver um boné da Cone Crew na cabeça de alguém. O reconhecimento nas ruas está cada vez maior e os shows lotados!

Terra - Vocês têm essa parceria com o D2, vão cantar com o Projota no VMB também. Tem alguém que vocês sonham em fazer parceria? Com alguém que não seja do hip hop, por exemplo?

Cone Crew - Temos muita vontade de fazer um som com O Rappa.

Terra - O Brasil é feito de períodos de excessos. Agora, estamos em uma época de muito sertanejo, por exemplo, mas também de rap e hip hop, com nomes como Criolo, Emicida e Projota. Vocês acham que é só uma fase ou é uma consolidação do rap brasileiro? Acham que o povo brasileiro tem reconhecido mais o trabalho dos rappers?

Papatinho - Acho que estão começando a reconhecer o valor, mas tá faltando reconhecer o valor do trabalhador comum.

Terra - Quando sai o novo álbum? Qual o principal tema tratado nele?

Cone Crew - A música Chefe de Quadrilha foi o primeiro single, mas, assim como da última vez, estamos com muita calma, selecionando as músicas que entrarão no próximo trabalho. O Papatinho já selecionou alguns beats e os moleques alguns versos. Quando menos esperarem o álbum novo sairá.

Terra - Como surgiu a ideia de Chefe de Quadrilha? A linha que vocês pretendem seguir é sempre essa, de debater temas importantes para a sociedade?

Cone Crew - Essa ideia não "surgiu", porque ela é nossa ideia constante. Sempre falamos de maconha, mas quem ouve nossas músicas sabe que estamos antenados e protestando contra os problemas do Brasil e do mundo! Estamos de olho nesses engravatados!

Terra - Quem são as influências do grupo?

Cone Crew -Só música boa! Muita coisa, pois somos seis integrantes. Ray Charles, Racionais, Gabriel, o Pensador, Planet Hemp , 2Pac, B.I.G., BoneThugz, Tim Maia, Raúl, Santana, Orquestra Imperial Chinesa, os artistas do Soul brasileiro, todos da Motown, Bob Marley e reggae em geral, Damian Marley, Alborosie, e muito mais.

Papatinho - Na parte da produção, sou fã dos beats do Dr. Dre, Kanye West , 9th Wonder, entre outros.

Terra - Cada integrante tem um apelido diferente (Rany Money, Cert, Papatinho, Batoré, Ari e Maomé). Da onde surgiram?

Cone Crew - Cert era o codinome que ele assinava na época do "xarpi" (tipo de pichação). Papatinho é uma das variações que pegou do apelido de infância "Sapatinho". Maomé é porque ele era camarada de um cara que tinha o apelido de Jacó. Rany é nome mesmo. Rany Money porque, quando crianças, o chamávamos de "Rany Manei", de maneiro. Batoré, jogava bola com o mesmo jeito de andar do personagem Batoré, de A Praça é Nossa. Ari , é abreviação do nome Adriano, Adri, e passou a ser Ari.

Terra - Algumas vezes, a imprensa fala de vocês como o Planet Hemp da nova geração. Vocês concordam com o título? Acham uma boa comparação?

Maomé - Ser comparado ao incomparável sempre se torna uma honra. Em relação ao Planet, uma banda que a gente comprava os ingressos dos shows, CDs e até camisas, a gente jamais se comparou, apenas nos inspiramos como referência de uma banda pioneira em relação ao discurso livre. A Cone Crew tem o hip hop como ferramenta de discurso, já o Planet tem seu discurso (rimado) ao som do Hard Core. Resumindo, independente do nosso trabalho, em relação ao Planet, somos apenas grandes fãs.

Terra - Vocês têm feitos shows em várias cidades do Brasil. Tem algum lugar que vocês gostam mais de tocar?

Cone Crew -É sempre bom fazer shows no Rio, nossa casa, mas chegamos à um ponto em que nos sentimos em casa em qualquer lugar do Brasil. Então, "tamo" na pista!

Terra - Chama os Mulekes foi o primeiro sucesso de vocês e o vídeo no Youtube alcançou mais de 6 milhões de acessos. Como foi ver esse sucesso na internet?

Cone Crew - Foi muito gratificante, nosso vídeo foi feito de forma totalmente independente em parceria com Toddy Ivon, e os artistas e amigos fecharam em participar tudo na parceria e em clima de festa.

Terra - Vocês citam a maconha em várias letras de vocês, como Sem a Planta, por exemplo. Como é a relação de vocês com o tema? Vocês são a favor da legalização? Tentam discutir isso também com o público de vocês?

Cone Crew - Nós somos usuários, e defendemos o direito de liberdade do uso e do cultivo, sendo para uso têxtil, medicinal ou recreativo. Nosso papel em relação à discussão do tema com nossos fãs é apenas dividir o nosso pensamento e abordar o tema de forma natural.

Terra - O que já mudou na vida de vocês com a fama?

Batoré - As mulheres adicionam mais no Facebook e agora ando de táxi sem que os motoristas achem que vou roubá-los. E claro, sou eu que pago o motel.

Papatinho -O Batoré é um palhaço, "mermo" (risos).

A Cone foi formada em 2006
A Cone foi formada em 2006
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
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