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Dream Theater: "jamais aceitaremos Mike Portnoy de volta à banda"

24 ago 2012 - 19h26
(atualizado às 20h08)
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David Shalom
Direto de São Paulo

O fã do Dream Theater que ainda nutria alguma esperança quanto à volta de Mike Portnoy à banda pode se conformar. Fora do quinteto desde 2010, quando propôs aos colegas de estrada um hiato de alguns anos para se dedicar a outros afazeres, o músico foi substituído por Mike Mangini, responsável pelas baquetas no último disco do grupo, A Dramatic Turn of Events, gravado em 2011, cuja sexta turnê pelo Brasil passa por seis capitais nesta semana, incluindo São Paulo, neste domingo (26), no Credicard Hall.

"Definitivamente não há nenhuma possibilidade de Mike Portnoy um dia voltar ao Dream Theater", disse o vocalista James LaBrie em entrevista exclusiva ao Terra, na qual contou detalhes sobre o antes, o durante e o depois da saída do baterista, considerado um dos mais técnicos em seu instrumento. "Essa decisão é permanente. Decidimos que é o melhor para a banda e nos sentimos bem com essa ideia. Acho que ele o fez porque queria seguir em frente, ver outras possibilidades na música, algo que continua fazendo. Acredito que ele está arrependido da decisão, mas, ao mesmo tempo, o Dream Theater, como banda, está soando melhor, e nós estamos nos sentindo bem de uma forma que não sentíamos há muito tempo. É uma pena para Mike Portnoy, mas, ironicamente, isso tudo nos fez perceber que somos uma banda melhor sem ele."

A boa fase tão exaltada por LaBrie foi confirmada com o disco mais recente da banda. A Dramatic Turn of Events (uma dramática mudança nos eventos, em tradução livre) - que o cantor garante não ser um título em referência à mudança no line-up da banda - teve, desde seu lançamento, uma surpreendente receptividade do público, chegando a estrear na oitava colocação da parada de sucessos norte-americana Billboard 200, uma das mais importantes da indústria fonográfica mundial. Apesar disso, ele ainda vê com ressalvas a realidade do mercado nos EUA. "Ganhamos muita notoriedade ao longo dos anos e, sim, as coisas continuam melhorando para o Dream Theater. Mas você precisa ter em mente que estamos fazendo isso há mais de 20 anos. Acho que com uma banda como a nossa, ou similar à nossa, esse sucesso deveria acontecer de forma muito mais rápida do que foi na realidade, mais recentemente."

Confira a entrevista na íntegra a seguir.

Terra - O Dream Theater tem uma popularidade incomum entre bandas de heavy metal. O álbum mais recente, A Dramatic Turn of Events, por exemplo, entrou na parada Billboard 200, uma das mais importantes do planeta, na oitava posição, logo na semana de lançamento. Qual é o motivo que os leva terem tamanho destaque em um estilo quase sempre ignorado pelos grandes veículos de comunicação?

James LaBrie - Há muitos motivos para isso, mas o fato é que somos muito apaixonados pelo que fazemos e estamos sempre focados em garantir que cada disco seja melhor do que o anterior. A Dramatic Turn of Events mostra que continuamos sendo o mesmo Dream Theater, mesmo com um novo integrante, o baterista Mike Mangini. De um ano para cá temos excursionado pelo mundo e os fãs o receberam como alguém que sempre esteve conosco. O outro motivo é que realmente ligamos muito para os nossos fãs e tudo neste meio acaba se resumindo à relação existente com eles. Acho que, por isso - por sermos o tipo de banda que somos e por mostrarmos a nossos fãs do mundo inteiro que continuamos preocupados com tudo o que fazemos musicalmente -, garantimos a longevidade de nosso trabalho.

Terra - O virtuosismo do Dream Theater também não favorece na conquista de novos fãs e admiradores, assim como ocorreu com outros grupos de música progressiva, como o Rush?

James - Sem dúvida ajuda. O fato de estarmos sempre tentando melhorar, de em todos os álbuns mostrarmos o que sentimos da melhor maneira possível, musicalmente falando, envia uma forte mensagem para os nossos fãs e, para mim, é o motivo pelo qual continuamos tendo uma carreira muito bem-sucedida.

Terra - No entanto, há muitas bandas que seguem essa mesma lógica nos EUA sem, no entanto, conseguir atingir o sucesso do Dream Theater. Enquanto países da Europa e o Japão são exaltados por músicos de heavy metal, os mesmo costumam ser bastante críticos em relação ao mercado norte-americano. Você vê uma cena limitada no país?

James - Sim, com certeza. Acho que a principal razão para isso é que grande parte do público dos EUA e Canadá ouve apenas os conteúdos das rádios. Todas elas tocam estilos de música muito parecidos, que são música pop, na maior parte das vezes. Não há espaço para bandas progressivas, de heavy metal ou alternativas. Mesmo nas rádios FM especializadas em rock, o conteúdo é pop. Então não há uma plataforma para as grandes bandas desses estilos serem ouvidas. Para mim, esse é o principal motivo pelo qual não existem tantas bandas desse meio com um grande público na América do Norte, como existe na Europa, Ásia, América do Sul. Tanto o Dream Theater quanto bandas similares à nossa não têm a oportunidade de vivenciar a experiência de um grande concerto ficando por aqui, apenas nos EUA. E isso é uma enorme pena.

Terra -Por essa lógica, o Dream Theater jamais conquistaria discos de ouro nos EUA ou lançaria álbuns presentes em importantes paradas de sucesso do mundo. Mas tudo isso ocorre com a banda...

James - Sim, você está certo. Nós ganhamos muita notoriedade ao longo dos anos: estreamos nosso disco mais recente na Billboard 200, fomos indicados ao Grammy. Ou seja, sim, as coisas continuam melhorando para o Dream Theater. Mas você precisa ter em mente que estamos fazendo isso há mais de 20 anos. Acho que, com uma banda como a nossa ou similar à nossa, esse sucesso deveria acontecer de forma muito mais rápida do que aconteceu na realidade, mais recentemente. Não estou dizendo que ficamos chateados com essa situação, pois somos afortunados por termos conquistado tudo o que conquistamos. Mas, pessoalmente, eu acredito que nós, como banda, lançando o tipo de música que lançamos, deveríamos ser muito mais bem-sucedidos, muito maiores do que somos, na América do Norte. Infelizmente esse não é o caso, principalmente por existirem tantos meios responsáveis por divulgar sempre os mesmos tipos de música às massas.

Terra - O Dream Theater sofreu uma grande mudança em sua formação em 2010, quando o baterista Mike Portnoy, um de seus fundadores, decidiu deixar a banda. Como você encarou essa notícia?

James - Quando Mike disse que sairia da banda, nós viramos para ele e dissemos, "não faça isso, é um grande erro, do qual você irá se arrepender". E, de fato, após seis ou oito semanas, isso ocorreu: ele se arrependeu da decisão e quis voltar à banda. No entanto, àquela altura nós já havíamos feito testes com sete bateristas do mundo inteiro e já tínhamos escolhido Mike Mangini para substituí-lo. Para mim, Mike (Portnoy) cometeu um grande erro, mas, por outro lado, eu acredito que existe um motivo para tudo na vida. Acho que ele o fez porque queria seguir em frente, ver outras possibilidades dentro da música, algo que continua fazendo. Acredito que ele esteja arrependido da decisão, mas, ao mesmo tempo, o Dream Theater, como banda, está soando melhor, e nós estamos nos sentindo bem de uma forma como não nos sentíamos há muito tempo. Mike Mangini é um baterista fenomenal, que trouxe um espírito totalmente novo à banda. Sentimo-nos muito melhor sendo, tocando e fazendo o que amamos fazer. É uma pena para Mike Portnoy, mas, ironicamente, isso tudo nos fez perceber que somos uma banda melhor sem ele.

Terra -Vocês perceberam que Portnoy não estava satisfeito com o Dream Theater antes de ele anunciar a saída? Há possibilidade de algum dia ele retornar à banda?

James - Definitivamente não há retorno. Neste momento, nós sentimos que continuaremos a ser quem somos agora, com Mike Mangini até o dia em que decidirmos parar. Portnoy jamais voltará. Isso é permanente, é o que decidimos para a banda e nos sentimos bem com essa ideia. Estamos muito orgulhosos de A Dramatic Turn of Events, é um álbum incrível, e Mike Mangini é um baterista fenomenal, que tem se saído muito bem, também na estrada. Ele entrou em uma banda com mais de 20 anos de carreira e deu continuidade à nossa visão. Isso é admirável e ele merece todo o respeito do mundo por conseguir fazê-lo, afinal era uma situação pesada e eu consigo apenas imaginar a pressão e o estresse que foram colocados sobre ele, mas ele lidou com tudo isso de forma admirável e acho que, por causa disso, nos sentimos até melhor como banda, com o sentimento de que permaneceremos com esse line-up até o fim da banda.

Terra - Como você se sentiu quando ele anunciou a saída?

James - Bem, eu fiquei surpreso. Realmente não esperava ouvi-lo falar aquilo. Além do mais, é preciso lembrar que, naquele dia, estávamos originalmente reunidos para discutir quando voltaríamos ao estúdio para gravar o novo álbum. E Mike Portnoy chegou e disse que sentia que deveríamos dar uma parada estendida nos trabalhos da banda, um hiato sem prazo determinado, e nós não estávamos preparados para isso. Dissemos, "não, isso é o que fazemos, o que amamos fazer e o que queremos continuar fazendo". Nenhum de nós estava pensando em parar e ele queria ficar de um ano e meio a cinco anos fora de atividade. Na minha visão, neste mundo, da indústria fonográfica, um período de tempo como esse simplesmente decreta a morte de uma banda. Não esperávamos a saída de Portnoy, mas, sabe, há um motivo para tudo e acho que somos uma banda muito melhor depois que isso aconteceu. No final, acabou sendo uma benção.

Terra - O título A Dramatic Turn of Events (uma virada dramática nos eventos) faz referência à saída dele?

James - Não. Quando colocamos esse título no álbum, sabíamos que a maioria dos nossos fãs pensariam que seria uma referência a Mike Portnoy e à sua saída da banda. Mas não tem nada a ver com isso. A Dramatic Turn of Events diz respeito ao que temos experimentado nos últimos anos enquanto seres humanos. No mundo inteiro está ocorrendo uma série de mudanças dramáticas, espirituais, religiosas. As sociedades estão mudando, revoluções e guerras estão ocorrendo no mundo inteiro, como no Egito e na Síria, as pessoas estão lutando para serem tratadas de forma justa. E é justamente sobre isso que o álbum se refere.

Terra - O Dream Theater está vindo ao Brasil pela sexta vez, em uma turnê com datas em cinco capitais, até hoje a maior da banda no País. Quais são as suas lembranças dos giros por aqui?

James - As experiências passadas que tivemos no Brasil foram incríveis. Temos fãs leais e dedicados por aí e somos muito afortunados por poder viajar a um país como o Brasil. E saber que temos dezenas de milhares de fãs que vão acompanhar os shows é uma situação fantástica para o Dream Theater. Estamos muito empolgados para voltar, fazer uma nova turnê, ter a possibilidade de mostrar aos fãs pela primeira vez as canções de A Dramatic Turn of Events, assim como faixas de nossos outros álbuns. Além disso, estaremos apresentando aos brasileiros Mike Mangini. Traremos um grande show, tanto musical quanto visualmente, e mal podemos esperar para começar essa turnê.

Terra -A gravadora do Dream Theater, a Roadrunner Records, especializada em heavy metal, fechou recentemente seus escritórios na Inglaterra e no Canadá, consequência da crise na indústria fonográfica. Como isso afeta a banda e, ao mesmo tempo, a cena do estilo?

James - Bem, sabe, nós fomos assegurados pela Roadrunner Records que somos uma prioridade da gravadora, que não seremos esquecidos e que as coisas continuarão sendo iguais eram antes dessa crise. Claro, eles estão passando por uma transição e a situação permanece a mesma que era seis meses atrás, quando essas notícias começaram a rolar. O que posso dizer? Nós temos que acreditar neles e acreditamos. Temos total confiança no selo e acho que tudo permanecerá bem. Não posso dizer, no entanto, que essa será a mesma realidade das outras bandas. Não posso dizer o que vai acontecer com os outros artistas da Roadrunner ou mesmo o que acontecerá na cena do heavy metal, porque, sabe, ela é uma gravadora fenomenal, e, se isso vai afetar muitas outras bandas ou a cena metal, é algo que teremos de esperar para ver. Eu espero que isso não aconteça, mas acho que, de alguma forma, algum lado será prejudicado por essa mudança.

Terra - Em diversas entrevistas você já afirmou que gostaria de um dia atuar em algum espetáculo da Broadway. Ainda tem essa ambição?

James - Sim, com certeza. Eu ainda tenho um enorme desejo de fazer isso. Infelizmente, mas também felizmente, sou muito ocupado com o Dream Theater. Fazemos turnês muito longas, estamos sempre tocando e, assim que terminar o giro atual da banda, vou terminar de escrever as canções de meu próximo álbum solo e gravá-lo. Então, sabe, preciso procurar uma janela de seis meses ou até um ano, na qual possa colocar de lado todo o resto de meus afazeres para atuar em uma peça da Broadway. Mas definitivamente isso é algo que ainda quero fazer. Apesar de, em um futuro próximo, não haver nenhuma brecha para que isso ocorra, com certeza será algo que irei fazer antes de me aposentar.

Terra - Existe algum espetáculo em especial em que você gostaria de atuar?

James - Bem, eu adoraria fazer Jekkil and Hyde, Jesus Cristo Superstar, O Fantasma da Ópera, Os Miseráveis. Mas vou te dizer um musical específico que tem me fascinado de forma única atualmente. Chama-se Once. Se você tiver oportunidade, saia e alugue o filme, pois, garanto, você ficará surpreso. É tão incrível. As músicas, o cenário, a história, tudo. E a história do longa acabou de estrear uma montagem na Broadway. Eu adoraria cantar algo como esse musical, porque as linhas de voz são muito profundas, exigem alma e coração para serem interpretadas. Se você tiver oportunidade, vá e confira. Garanto, não irá se arrepender.

Da direita para a esquerda: James LaBrie, John Petrucci, Jordan Rudess, Mike Mangini e John Myung
Da direita para a esquerda: James LaBrie, John Petrucci, Jordan Rudess, Mike Mangini e John Myung
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
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