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Ex-CSS sobre saída da banda: "elas se juntaram contra mim"

3 jul 2012 - 08h02
(atualizado às 14h39)
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David Shalom
Direto de São Paulo

Por quase uma década, ele foi o cérebro por trás do Cansei de Ser Sexy, um dos principais representantes do Brasil na Europa e EUA nos anos 2000. Desde novembro, no entanto, Adriano Cintra deixou para trás o sucesso conquistado ao lado de Luísa Lovefoxxx e companhia para traçar um caminho independente. Dono do próprio selo, o Coletiva Produtora, o músico e produtor de 38 anos lança neste mês o primeiro disco do Madrid, projeto feito em parceria com a cantora Marina Vello, ex-Bonde do Rolê, que se apresenta gratuitamente nesta terça-feira (3), na Chopperia do Sesc Pompeia, em São Paulo.

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"Acabou a amizade, acabou o respeito e elas se juntaram contra mim, sendo que eu sou o responsável por todas as suas músicas", explicou em entrevista exclusiva ao Terra sobre sua saída do grupo, acompanhada por uma enorme interrogação, ainda persistente, a respeito de seu futuro. "Para mim, essa banda acabou e só elas fingem que não, fazendo shows esporádicos nos EUA, tocando minhas músicas e meus arranjos. O que elas fazem é praticamente um Cansei de Ser Sexy cover, com a diferença de que a vocalista é a mesma da banda original."

Apesar de claramente ter certo rancor em relação a atitude das ex-colegas, Adriano garante que há tempos já não via futuro no CSS. Para ele, o grupo deveria ter encerrado as atividades logo após o lançamento do segundo disco, Donkey, de 2008, caracterizado pela migração do estilo eletrônico e dançante para o rock. "O problema do Cansei é que eram muitas pessoas envolvidas, muitas pessoas que não faziam nada, mas que, na hora de mandar, queriam mandar, e aí era uma grande confusão. Por isso eu cansei. Minha banda agora sou eu e a Marina, que é participativa, compõe, produz, toca, desenha, tem boas ideias, lê livros. Ela é uma pessoa com quem posso conversar sobre milhões de coisas e, assim, acabamos escrevendo muitas coisas também."

Confira a entrevista na íntegra a seguir.

Terra - Você está lançando um novo projeto, o Madrid, ao lado de Marina Vello, conhecida pelo trabalho com os funkeiros do Bonde do Rolê. Como essa parceria aconteceu?

Adriano Cintra - Isso vem de tempos. Eu já conhecia a Marina desde 2005, quando toquei com o Cansei em Curitiba ao lado da banda dela. Em 2006 voltamos a nos apresentar juntos, desta vez em uma turnê nos EUA, a primeira no exterior que fizemos, e acabamos ficando bastante amigos. Coincidentemente, quando me mudei para Londres, ela estava morando lá e acabou sendo minha vizinha, reforçando essa amizade. Já de volta ao Brasil, um dia ela veio para cá para um casamento e me ligou, dizendo que queria passar no meu estúdio. Desde então, começamos a fazer música juntos e não paramos mais.

Terra - O Madrid é muito diferente do CSS, que tornou seu nome conhecido no meio da música. Como você classificaria o estilo desse novo projeto?

Adriano - Ah, eu não sei. Prefiro chamar apenas de música, porque é o que fazemos. Nossa característica mais marcante é o piano e acho que o som é, sei lá, alternativo. Digo isso porque quando fomos colocar as canções no iTunes era necessário inserir um gênero para elas, fui procurando as bandas que eu gostava e todas eram classificadas como alternativas. Então escolhi essa opção também. Mas o processo todo é completamente o contrário daquele do Cansei: não tem nada de eletrônico, é tudo tocado. Gravamos o disco inteiro em um take só, sem emenda nem nada.

Terra - O disco será lançado em versão digital e em vinil pelo seu selo, a Coletiva Produtora, fundado em 2009. Por que você resolveu investir em um selo próprio?

Adriano - Criei este selo com a sócia da minha produtora de publicidade pelo simples fato de eu não ter mais paciência de correr atrás de gravadora, entende? É engraçado porque fizemos tudo: gravamos, masterizamos, mixamos e já tem uns selos de fora do Brasil interessados em lançar o material em CD - o que eu acho muito interessante, pois não tenho a pretensão de fabricar CDs. Odeio essa mídia. Para mim, CD é entulho, é horrível. Meu negócio é vinil.

Terra - Então, se não houvesse propostas para o lançamento do trabalho em CD, vocês ignorariam essa mídia?

Adriano - Sim. Para mim, o CD é cada vez menos importante. Já está em baixa e acho, que quando as pessoas aqui no Brasil tiverem mais acesso às lojas virtuais, elas irão comprar ainda menos CDs. Aliás, elas nem compram mais, apenas baixam, pirateiam. A música de hoje é digital. O vinil se salva porque é uma coisa de colecionador, é mais legal, tem a foto maior, as letras...conheço pessoas que sequer cresceram com o vinil e que, mesmo assim, adoram. Virou uma coisa meio cult.

Terra - Por que seguir esse caminho mais independente em vez de ir atrás de algumas grande gravadora?

Adriano - Pela minha experiência com grandes gravadoras, a única que eu gostei mesmo foi a Subpop, um selo muito pequeno da Warner. Isso porque eles sabiam exatamente com quem estavam lidando, o estoque deles era no próprio escritório, havia muito controle sobre o que estava acontecendo. Mas, quando fomos ao Reino Unido para trabalhar com uma gravadora grande, foi horrível. O tipo de gente que trabalha nesse tipo de empresa não tem noção do que é a sua banda, não sabe o que você toca. Sinceramente, não tenho mais a menor vontade de trabalhar com um selo major. É um mercado em que você está lá, jogado no meio da indústria. Amanhã, se as vendas caem, te mandam embora e colocam um outro cara no lugar. Eles só gastam dinheiro no que dá dinheiro. Não sei por que, então, se preocupam em assinar com artistas pequenos. Contrata só Beyoncè, Lady Gaga, Adele e pronto.

Terra - Falemos um pouco a respeito do Cansei de Ser Sexy. Por que, afinal, você resolveu deixar a banda?

Adriano - Foi por uma série de fatores. Acabou a amizade, acabou o respeito e elas (as integrantes do quinteto) se juntaram contra mim, sendo que eu fiz todas as músicas da banda. De fato, para mim o Cansei já acabou e só elas fingem que não, fazendo shows esporádicos nos EUA, tocando minhas músicas e meus arranjos. O que elas fazem é praticamente um Cansei de Ser Sexy cover, com a diferença de que a vocalista é a mesma da banda original. Aquelas meninas não compuseram nada, nem sequer um arranjo, com exceção da Lovefoxxx, que escreveu algumas letras. Mas as músicas estão lá e se elas continuarem tocando, falando que as composições são minhas, eu não ligo, afinal continuo ganhando dinheiro com isso. Para mim, essa banda tinha que ter acabado em 2008, depois do segundo disco. O terceiro fiz a contragosto e a prova disso é não aguentei ficar nem um ano viajando com a sua turnê.

Terra - A exemplo do que fazem outros artistas, você não pensou em entrar na Justiça para impedir o CSS de continuar na ativa?

Adriano - De forma alguma. Que fim vai levar essa banda? Eu acho que daqui a seis meses a Lovefoxxx sai em carreira solo, chuta elas todas na bunda e rapa, entende?

Terra - Na época de sua saída houve uma história da divisão da banda por causa de desacordos com empresários...

Adriano - Ah, mas sempre foi assim. A gente só teve empresarios péssimos, todos eles foram terríveis. O último é um mau caráter, um americano golpista, entende? Ele chegou roubar dinheiro de mim e, quando eu descobri, ele falou que precisava de uma comissão para me pagar. Eu falei: "mas isso é comissão ou resgate? Você roubou meu dinheiro, quer me devolver e agora está exigindo resgate? É agiota agora?". Mas é nisso que dá. A gente é brasileiro, aí lida com americano, recebe dinheiro na Inglaterra e é só confusão.

Terra - Você abriu processo contra ele?

Adriano - Contra esse empresario do dinheiro, não. Mas tenho um processo contra o nosso primeiro "empresário", que nem empresário era de verdade, que também geriu pessimamente o nosso dinheiro e faliu a banda. Contra ele eu tenho um processo criminal correndo há uns quatro anos.

Terra - Por que você acha que o Cansei de Ser Sexy obteve um sucesso tão maior no exterior do que no Brasil? Foi um caminho proposital?

Adriano - Porque, simplesmente, era muito legal, o show era incrível. A Lovefoxxx pode ser uma pessoa que eu não quero ver nem pintada de ouro, mas ela é muito boa no palco e 90% do sucesso da banda se deve a ela. Se você entra na página da banda no Facebook, ninguém fala, "ai, eu quero uma foto da Carol". Não! As pessoas falam: "Lovefoxxx, eu te amo", "Lovefoxxx, você é o máximo", "Lovefoxxx, me manda oi" (risos). Apesar de ela cantar mal para caramba, no palco ela é muito boa e as pessoas queriam vê-la lá, rodopiando, pulando, plantando bananeira....as pessoas saíam muito animadas dos shows justamente por ela ser boa. Além disso, o show era muito bom porque trabalhávamos com pessoas muito boas. Nosso último técnico de som, por exemplo, era o mesmo do The Strokes. Então, o som era bom, a luz do palco era boa, tudo era bom. Era tudo muito profissional, entende?

Terra - Se tudo era tão bom, por que deu errado?

Adriano - O problema do Cansei é que eram muitas pessoas envolvidas, muitas pessoas que não faziam nada, mas que, na hora de mandar, queriam mandar, e aí era uma grande confusão, entende? Por isso eu cansei. Minha banda agora sou eu e a Marina, que é participativa, compõe, produz, toca, desenha, tem boas ideias, lê livros. Ela é uma pessoa com quem posso conversar sobre milhões de coisas e, assim, acabamos também escrevendo muitas coisas. Tanto é que estamos compondo um novo disco sem mesmo ter lançado o primeiro. Além disso, tudo o que fazemos é por escrito: os músicos da banda, por exemplo, são pagos em todos os shows, tudo certinho, com recibo, para não ter confusão depois.

Terra - Por que você acha que no Brasil o sucesso do CSS não se repetiu?

Adriano - Porque aqui é outro esquema. Tipo, não é tão profissional quanto lá fora, não tem um circuito de show como tem lá fora. Nos EUA, por exemplo, a gente fazia turnê de dois meses tocando quase todo dia. Quando no Brasil vamos fazer isso? É de Porto Alegre para o Nordeste, do Nordeste para o Acre e aí tem que voltar para São Paulo, tudo corrido, de avião. Também não existem lugares profissionais, com iluminação e som bons, para 300, 400 pessoas. Lá fora tem.

Terra - A estrutura, então, seria o único problema do País?

Adriano - De forma alguma. Na verdade, o principal problema daqui é a mentalidade, que é muito diferente da do exterior. Eu não sei, o Brasil é muito esquisito. É um país em que parece que todo mundo é desiludido ao máximo, que tudo é muito longe, tudo muito caro, então as pessoas já olham para você com um ar desconfiado. Parece uma ranzinza do brasileiro. Sem falar que as rádios não existem, certo? Só toca pity, NX Zero ou outra coisa horrorosa! O único canal para as coisas novas mesmo é a internet, mas nela há um infinito de informações e até você se centrar, achar o que quer, demora. Tem que ser uma pessoa muito esclarecida para usá-la da forma ideal. Então você fica sempre refém de quem tem a informação. Sem contar que não tem onde tocar ou tem e o contratante não quer pagar, afinal, se tem um monte de gente querendo tocar de graça, por que vão pagar você? Aqui, também, as pessoas saem na noite não para ver uma banda, mas para beber, cheirar cocaína e aí fica difícil, não é? Fora que fazem os show às 2 da manhã! Quem merece ver um show às 2h da manhã? Show é uma coisa para se ver às 21h, antes de sair. Você vai, vê o show e depois sai para beber, não o contrário. A não ser, claro, que seja um festival, em que você fica o fim de semana inteiro bêbado e drogado. Aí tudo bem (risos).

Terra - Não posso deixar de perguntar. Depois de todos esses anos, você conseguiu enriquecer com o CSS?

Adriano - Vou ser bem sincero: todo o dinheiro que ganhei com o Cansei gastei morando fora. Foram quatro anos vivendo em Londres, pagando aluguel e isso me fez gastar - e muito. Mas vivi bem, não posso reclamar. Conheci o mundo inteiro, comprei várias coisas que tinha vontade de ter, como um computador e um teclado (risos), mas gastei tudo.

Serviço - Madrid

Data: Terça-feira, 3 de julho

Horário: 21h

Local: Sesc Pompeia - Rua Clélia, 93 - São Paulo/SP

Preço: Grátis

Censura: 12 anos

O ex-Cansei de Ser Sexy ao lado de Marina Vello, com quem fundou o projeto Madrid
O ex-Cansei de Ser Sexy ao lado de Marina Vello, com quem fundou o projeto Madrid
Foto: Miro / Divulgação
Fonte: Terra
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