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Com Michael Kiske, Unisonic faz show marcado por nostalgia em SP

19 mai 2012 - 05h08
(atualizado às 15h58)
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David Shalom
Direto de São Paulo

"Vocês são os melhores, vocês são os melhores". O feed-back repetido incansavelmente por Michael Kiske, nesta sexta-feira (18), no HSBC Brasil, em São Paulo, ilustra bem a sensação que os mais de 1.500 paulistanos presentes tiveram ao ver o ídolo no show de sua nova banda, o Unisonic. Não é por menos. Ao intervalo de cada canção, gritos de seu nome tomavam a casa de espetáculos, deixando claro o deslumbramento dos fãs por conferirem mais uma vez ao vivo o vocalista que tornou o Helloween uma das mais importantes bandas de heavy metal da história.

Mas havia algo a mais nesse sentimento. Ao longo de muito tempo, Kiske fez questão de se afastar do estilo. Flertou com o pop, se recusou a participar de projetos ligados à música pesada e chegou a dizer que jamais voltaria a cantar nada que se aproximasse dela. Nos últimos anos, essa realidade parecia mudar graças à sua participação em inúmeros projetos metaleiros, como a ópera-rock Avantasia - com a qual veio ao Brasil em 2010 -, mas os discursos e a carreira solo indicavam que provavelmente esses casos seriam pontuais, não uma volta real ao estilo. E o Unisonic marca exatamente a ruptura dessa fase.

Apesar de ser mais voltada ao hard rock, a banda mantém as principais características do power metal que consagrou o nome de Kiske: vocais agudos, solos rápidos de guitarra, refrões grudendos, bateria pesada. Difícil seria que fosse diferente, afinal, ao lado do vocalista, o grupo conta em sua base com o guitarrista Kai Hansen, um dos principais precursores da divisão mais melódica do estilo, responsável pela fundação do Helloween e líder do Gamma Ray. Completam a formação o ex-Krokus Mandy Meyer (guitarra), o baixista Dennis Ward (Pink Cream 69) e o baterista Kosta Zafriou (D.C. Cooper).

Ainda assim, surpreendeu a resposta do público ao início do set-list, quase totalmente focado no primeiro disco do grupo. Após a introdução com um trecho de Cavalgada das Valquírias, do compositor erudito Richard Wagner, o quinteto subiu ao palco com Unisonic, emendada com Never to Late, ambas entoadas como clássicos pelos fãs, apesar de terem sido oficialmente lançadas há menos de dois meses. E, entre momentos de maior e menor empolgação - estes marcados principalmente pelas canções mais hard rock -, a receptividade dos presentes esteve sempre em alta, com cantos de "olê, olê, olê, Kiske, Kiske" e gritos de "Unisonic" ao encerramento de cada uma das faixas.

Mas foi a nostalgia que acabou se tornando a maior marca da apresentação. Se desde o início ver o cantor, no auge de sua técnica vocal, agitando e fazendo gracinhas ao lado do igualmente carismático Hansen já trazia um sentimento forte de saudades dos grandes tempos do Helloween - leia-se Keeper of the Seven Keys partes 1 e 2 -, quando a dupla finalmente relembrou o auge da banda isso foi elevado à potência máxima.

"Vocês estão se saindo bem até agora", elogiou Kiske após a execução de My Sanctuary, sexta canção de autoria do Unisonic consecutiva no show. "E eu fico imaginando como vai ser agora, pois vou cantar algo que há muito tempo deixei de lado. Sabem, houve um tempo em que eu e Kai tocávamos juntos em uma banda Helloween..." Foi a senha para o aguardado momento.

March of Time foi a escolhida para dar aos fãs um gostinho daquilo que há pelo menos 25 anos esperavam acompanhar de perto: Kiske ao lado de Hansen executando um clássico da banda alemã ao vivo. E aí ficou realmente difícil não olhar para o palco sem imaginar a também presença de Michael Weikath e Markus Groskopf, integrantes da formação clássica do quinteto, junto à dupla. Claro, é sempre refrescante ver músicos elaborando novos projetos - como é o caso do Unisonic -, mas, a partir do momento em que estes se tornam lendas em um grupo específico e, no caso do cantor, passam décadas distantes do meio, fica quase impossível se desvencilhar dele e não desejar que um dia volte a ser parte da realidade.

A própria presença de palco dos dois grandes focos da noite reforçou isso. Fisicamente, Kiske não lembra nem de longe o jovem loiro e franzino que comandou os vocais do Helloween até o início da década de 1990. Hoje ele é um sujeito careca, claramente acima do peso, com roupas largas, capuz, características bem mais condizentes com um rapper do que com um vocalista de metal. Seus discursos e movimentos, no entanto, são bem parecidos com os dos velhos tempos, soltos, sempre com um ar descompromissado, quase lúdico - mesmo caso do colega Hansen, eterno sorridente e brincalhão frente ao público.

Depois de mais uma série de canções do Unisonic, que acabaram esfriando um pouco a apresentação principalmente por terem uma pegada mais pop, dois dos maiores clássicos do Helloween recuperariam de vez o sentimento nostálgico que pareceu tomar o HSBC desde a entrada da banda no palco. Era a hora do bis, o momento último de um show, aquele que costuma ficar para sempre na memória de um fã.

Primeiro foi Future World, do Keeper of the Seven Keys - Part 1, que contou com arranjo específico para o público entoar diversas vezes o refrão - ladeado por divertidas interferências de Kiske imitando Elvis Presley, de quem é confesso admirador. Para encerrar, I Want Out, cantada a plenos pulmões tanto pelos fãs quanto pelo vocalista, que deixou o palco curvando-se ao público abraçado a seus companheiros. Difícil não imaginar que talvez estes pudessem ser outros, velhos conhecidos dos presentes.

Set-list:

Unisonic

Never Too Late

Renegade

King for a Day

I've Tried

My Sanctuary

March of Time (Helloween cover)

Follow the Sign (Helloween cover)

Over the Rainbow

Star Rider

Guitar solos (Kai Hansen & Mandy Meyer)

Souls Alive

We Rise

Never Change Me

Future World (Helloween cover)

I Want Out (Helloween cover)

O lendário vocalista alemão durante apresentação da banda no HSBC Brasil, na capital paulista
O lendário vocalista alemão durante apresentação da banda no HSBC Brasil, na capital paulista
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Fonte: Terra
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