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Em noite nostálgica, Los Hermanos e fãs devotos revivem hits em SP

11 mai 2012 - 03h13
(atualizado às 18h23)
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Tiago Agostini
Direto de São Paulo

As luzes do Espaço das Américas se apagaram e a banda entrou no palco acenando para o público ensandecido. Sem maiores cumprimentos, o riff de guitarra de O Vencedor tomou conta do local e a primeira estrofe foi levada apenas na bateria e nos pulmões do público, que esgotara os ingressos do primeiro show da turnê comemorativa de 15 anos do Los Hermanos em São Paulo, nesta quinta-feira (10). Passaram-se cinco anos desde o fim da banda e, à primeira vista, nada mudou. À primeira vista...

O Los Hermanos é a maior banda de sua geração. Entre 2001 e 2005, eles não só promoveram uma mudança na música brasileira - basta ver a atual safra do independente brasileiro, que ainda deve muito à banda - como conquistaram uma legião de fãs fiéis, quase no sentido literal da palavra. Desde sempre, o público da banda é um capítulo à parte na análise de qualquer coisa sobre os Hermanos. Da sequência inicial arrasadora cheia de hits - que seguiu com o suingue desengonçado de Retrato Pra Iaiá, a explosão de Todo Carnaval Tem Seu Fim e a brisa pop de O Vento - até o final pré-bis com Conversa de Botas Batidas e Último Romance, as vozes de Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo são abafadas pelos gritos - às vezes estridentes - dos fãs, cantando todos os versos. Não fosse assim, não seria um show da banda.

Um show do Los Hermanos é como encontrar aquele amigo antigo. Os caminhos se separaram, vocês já não se veem o tempo inteiro, talvez nem tenham mais nada em comum, mas as lembranças são agradáveis. Da mesma forma, as letras dos hits (Além do Que Se vê, Sentimental, A Flor) vêm fácil à mente, saem sem esforço, um verso puxando o outro pela memória, como você nem imaginava lembrar. A banda, confortável no palco, parece viver a mesma sensação. Nostalgia pura.

O Los Hermanos é fruto do último suspiro da força da indústria na era pré-internet. Mesmo carregando a "credibilidade" que as bandas indies costumam ter, eles nunca foram independentes. Descobertos no Recife, em um Abril Pró-Rock - eis o simbolismo de eles terem aberto a turnê atual nos 20 anos do festival -, eles primeiro passaram pela Abril Music e depois pela Sony. Daí o alcance da banda em um público fora do gueto. E há a importância de Anna Julia, o estopim da carreira. Que, sim, foi tocada no bis - como, aliás, eles faziam nos shows desde 2006 - enfileirada com as músicas curtas e esporrentas da estreia homônima da banda, até hoje um excelente álbum semi-subestimado.

Se os hits seguram a noite, há também os momentos mais contemplativos - não à toa proporcionados, boa parte, pelas músicas do derradeiro 4, álbum mais fraco da discografia. E mesmo nos grandes momentos a desafinação dos instrumentos e os erros em alguns riffs comprovam que eles continuam sendo músicos ruins em cima do palco - ainda que Rodrigo Barba seja perfeito ao manter a apresentação em seu ritmo milimetrado. Isso sem contar o som do Espaço das Américas, mais uma vez ruim - em alguns pontos da noite as caixas falhavam, o microfone de Amarante precisou ser trocado e as guitarras, nitidamente mais altas, zuniam nos momentos de maior intensidade.

Mas talvez o que mais incomode é que a banda comemora 15 anos nesta turnê tendo passado os últimos cinco longe dos holofotes enquanto grupo - e sete sem lançar material inédito. Amarante até apresentou uma canção nova, Um Milhão, meio arrastada e que deve estar em seu disco solo, prometido para 2012. Da carreira de Camelo nada apareceu. Provavelmente as diferenças criativas entre os dois compositores continuem tão grandes quanto há cinco anos e eles prefiram permanecer em caminhos separados, como tudo indica. Não deixa de ser triste, porém, que uma banda tão significativa pareça, após tão pouco tempo de atividade, uma cover de si própria, uma simples engrenagem do business de voltas recorrentes - além dessa, os Hermanos se reuniram em 2009 e 2010 para alguns shows.

No entanto, talvez o prazer da nostalgia daquelas velhas canções valha a pena. Mesmo que seja só por uma noite.

O Los Hermanos volta a se apresentar em São Paulo nesta sexta-feira (11), também no Espaço das Américas, com ingressos esgotados. A turnê ainda passa por Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro antes de retornar à capital paulista para mais dois shows, em 31 de maio e 1º de junho, também esgotados. Mais informações sobre o show são encontradas no Facebook oficial da banda, www.facebook.com/Los.Hermanos.Oficial.

Rodrigo Amarante mostrou sua habitual entrega no palco no show desta quinta (10), em SP
Rodrigo Amarante mostrou sua habitual entrega no palco no show desta quinta (10), em SP
Foto: Edson Lopes Jr. / Terra
Fonte: Terra
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