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Fiel ao Capital, disco solo é "capricho", diz Dinho Ouro Preto

11 abr 2012 - 14h58
(atualizado às 15h43)
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Rafael Machtura
Direto de São Paulo

Em 1994, quando Dinho Ouro Preto lançou seu primeiro disco solo, Vertigo, a intenção era mostrar que era melhor que o Capital Inicial, banda que havia largado um ano antes. "Aquele tempo foi de muito conflito com o Capital. Foi um momento onde me achei inadequado, a gente tinha virado mainstream e erámos tratados pelas bandas novas como inimigos. Aquilo me doeu para c**** e o propósito da minha saída era mostrar para as pessoas que eu era roqueiro", explicou ao Terra o sempre falante cantor, que, em 1995, lançou Dinho Ouro Preto e agora, 17 anos depois, Black Hearts, com covers de clássicos do rock n' roll apenas em inglês.

"Hoje, estou vivendo outra situação. Não tenho problemas com o que o Capital representa e estou na paz com a minha obra. Se aqueles dois álbuns eu compus deixando claro que estava rompendo com a banda, agora eu quero deixar claro que esse aqui é paralelo ao Capital."

Com 12 faixas que exploram a história do rock através das décadas, como Supicious Mind, de Elvis Presley, There Is A Light That Never Goes Out, dos Smiths, Love Will Tears Us Apart, do Joy Division, e ainda nomes como Leonard Cohen, Eddie Vedder, Pet Shop Boys, Muse e The Raconteurs, o novo trabalho de Dinho Ouro Preto foi, segundo ele mesmo, apenas um "capricho". "Trabalhar em grupo é uma coisa muito difícil, todo mundo precisa ceder em algum momento. Então chega um dia que você quer ser seu pequeno ditador e fazer as coisas sem precisar consultar ninguém. Esse disco representou isso: poder fazer as coisas nos meus termos."

Mesmo assim, Dinho reconheceu algumas amarras. Como fazer um álbum que não representasse uma ruptura com o Capital Inicial, mas que fosse o mais diferente possível? "O jeito foi ancorá-lo em três coisas: ser em inglês, ser um disco não-autoral e ter um tratamento mais acústico, com pouca distorção", explicou Dinho.

O músico também concordou que interpretar clássicos é outro limite artístico. "Eu não via alternativa, afinal, as músicas já têm as suas melodias. Mas rearranjá-las foi o que nos permitiu um pouco mais de liberdade. Claro que algumas foram tratadas quase como obras santas onde você não podia mexer, como Love Will Tear Us Apart".

Black Heart, nasceu do pedido de Dinho à gravadora Sony de cantar músicas que gosta e não "para mostrar que canta bem em inglês". "Não estou tentando mostrar meu lado indie, só são músicas com que me identifico. E o engraçado foi que, quando estávamos procurando as músicas por décadas, a gente percebeu que eram músicas de relacionamento, mas não de amor. São 12 músicas que falam de relacionamentos compulsivos, neuróticos, cínicos. Foi percebendo isso que a gente começou a ter um critério", disse. "A única surpresa foi que eu achei que o disco seria rápido de gravar", conta, rindo.

E a espera foi longa. Fazendo turnê com o Capital Inicial, que em 2012 completa 30 anos de carreira, e compondo o próximo disco do grupo, o processo durou seis meses, de agosto a janeiro deste ano. Com supervisão de David Corcos - que também produziu Das Kapital, último disco do grupo -, Dinho contou com um super time de músicos: o guitarrista Edu Bolonha, principal arranjador do disco, Mauro Berman e Lourenço Monteiro, baixista e baterista de Marcelo D2 e da banda Cabeza de Panda, e os norte-americanos Kool G Murder, nos teclados, e Lisa Papineau - uma voz feminina sem sotaques. As gravações do dois vieram diretamente de Los Angeles, Estados Unidos, graças à internet.

Agora, Dinho procura espaço em sua agenda e em casas para apresentar o novo trabalho. "Não sei se é um show que possa ser visto de pé, por isso penso em algo despretensioso, em teatros ou casas como o Bourbon Street, aqui em São Paulo. Quanto às datas, vou pegar o projeto solo no meio da semana, talvez uma quarta ou quinta-feira, eventualmente domingo, e deixar os fins de semana para o Capital, que são os dias que a gente mais se apresenta. A minha prioridade é o Capital, é a minha vida, são 30 anos".

Capital Inicial - 30 anos

Fundada em Brasília após a partilha do Aborto Elétrico (banda que contava também com Renato Russo), o Capital Inicial completa 30 anos em 2012. E, para a comemoração, a banda já está em processo de gravação de um álbum, o décimo segundo da carreira.

"A gente entra em estúdio no final de maio. Tenho 18 músicas prontas, mas quero fazer um disco curto, com apenas 11", explicou. Desta vez, a banda vai promover o disco de uma nova maneira. Das demos que o Capital Inicial apresentou à Sony, duas delas serão gravadas antes. Com a escolha de uma dessas faixas como single, o grupo continua a produção do álbum, que, com otimistmo, sairá em setembro.

"Eu estou quebrando a cabeça para que seja algo excepcional. Fiz várias coisas que remetem ao Aborto Elétrico, coisas mais punk rock. Será um disco um pouco mais nervoso que os anteriores", contou.

Mas, analisando a trajetória da banda nessas últimas três décadas, Dinho reconhece que a imaturidade e as drogas levaram a discos inconstantes e a sua saída da banda. "A gente cheirava que nem uns condenados, só pensávamos na próxima carreira, onde íamos nos divertir. Aí, tudo isso saía no disco".

"Se fôssemos caracterizar os anos 80 para o Capital, eu diria que foram irregulares, com músicas muito boas e outras muito ruins no mesmo disco. Hoje, eles são preparados com antecedência, o que nos permite tirar todos os excessos", contou.

Já sobre a volta à banda, em 1998, o vocalista acredita que foi uma segunda chance. "Quando o Capital se reuniu, voltei determinado a não deixar escapar, analisar meus erros e corrigí-los", explica. "Fazer parte da banda hoje é muito diferente do que foi no começo dos anos 90, onde hesitei e falei 'está indo muito no caminho errado'".

"Não tenho problemas com o que o Capital representa e estou na paz com a minha obra", disse Dinho sobre fase atual na carreira
"Não tenho problemas com o que o Capital representa e estou na paz com a minha obra", disse Dinho sobre fase atual na carreira
Foto: Bruno Santos / Terra
Fonte: Terra
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