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Coisas que Max faz são "estranhas", diz Andreas Kisser

22 jun 2011 - 11h08
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David Shalom
Direto de São Paulo

Diferentemente de Max Cavalera, que disse em entrevista recente à uma rádio norte-americana não gostar do trabalho atual do Sepultura, Andreas Kisser não foi tão direto quando questionado pelo Terra sobre o que pensava dos projetos do ex-colega de banda. Em conversa realizada após a audição do novo disco do quarteto, Kairos, o guitarrista preferiu ser mais ameno em suas declarações, sem deixar, no entanto, de cutucar o líder do Soufly e do Cavalera Conspiracy. "O Soufly está sempre com uma formação diferente. Agora, o Iggor e ele tocam juntos, só que o Iggor não escreve nada, só toca bateria e olhe lá. Então são meio estranhas as coisas do jeito que ele faz".

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A troca de farpas parece deixar clara a distante possibilidade de uma reunião futura da formação clássica do grupo, separado em 1996 com a saída de Max. Mas Kisser não se mostra tão firme em relação ao tema, apesar de não esconder a mágoa que sente pelo fato de o ex-colega ter levado do Sepultura toda a estrutura que levou dez anos para ser construída quando o deixou. "É algo que, se acontecer, vai ser de forma natural, conversando um com outro. Pois o Sepultura foi criado dessa forma, juntos, respeitando um ao outro, olhando no olho, falando as coisas, criando ideias juntos".

Contudo, o foco do guitarrista agora é divulgar o novo trabalho do quarteto e procurar mantê-lo no posto de principal representante do heavy metal nacional, o que, segundo ele, tem sido bastante exaustivo. "É um trabalho brutal divulgar um álbum. Durante a turnê atual, são quinze, dez entrevistas por dia, e é isso o que a gente precisa fazer. O disco é só um disco, que a gente bota lá e toca, porque é depois que precisamos trabalhar e viver a música no palco".

Pouco antes de se sentar com Andreas no pub no centro da cidade onde foi realizado o evento de Kairos, o Terra se reuniu com o baixista Paulo Jr. e o vocalista norte-americano Derrick Green, que, além de ter dado demonstrações de sua fluência na língua portuguesa - apesar de grande parte da conversa ter sido em inglês -, deixou visível sua maturidade quanto às comparações a que até hoje é submetido em relação ao seu antecessor. "Existe uma história muito forte no passado do Sepultura. Não é como se eu estivesse sendo comparado a algo ruim".

Confira os principais trechos das conversas abaixo.

Terra - Vocês já fizeram uma extensa turnê norte-americana, com 40 shows em um mês e meio, e agora irão à Europa fazer uma série de shows em um ritmo parecido. Como vocês ainda lidam com isso passados 25 anos de estrada?

Andreas Kisser - Estamos nos preparando para o lançamento deste trabalho desde o ano passado. Isso aqui que a gente está vendo agora (o evento do álbum Kairos), faz parte deste planejamento, não só aqui no Brasil, como no mundo inteiro. Eu tenho falado com gente do mundo todo pelo telefone. Durante a turnê atual, são quinze, dez entrevistas por dia, e é isso o que a gente precisa fazer. Não é só fazer a música que a gente acha ser a melhor possível e a capa, porque o disco é só o começo, não o final. O disco é só um disco que a gente bota lá toca, porque depois é que a gente precisa trabalhar e viver a música no palco, pois o melhor espaço para o músico é o palco. Você vê as outras bandas que cresceram...por exemplo, no filme do Anvil, o documentário daquela banda canadense (Anvil! The Story of Anvil, de 2008), você entende um pouco do porquê de as coisas não acontecerem. O Anvil era uma influência do Metallica, era maior que o Metallica. Ou o Venom, por exemplo. O Metallica abria os shows do Venom. Mas aí aconteceu muita coisa profissionalmente, de estrutura. Os caras se perderam, acreditavam que já estavam não sei onde e se perderam. É um trabalho brutal divulgar um álbum. Sabe, isso tudo aqui não é fácil, faz parte do trabalho e tal, mas, pô, é demanding. Você precisa estar preparado para isso.

Terra - Derrick, após mais de dez anos no Brasil, você já se adaptou ao País?

Derrick Green- (responde em português) Ah, com certeza! Eu adoro o Brasil. A cultura, a lígua, a comida. Eu moro aqui há dez anos, quase onze, e, para mim, é incrivel. Eu nunca ia imaginar na minha vida vir morar no Brasil e estar falando português. Eu adoro o País, adoro tudo!

Terra - Como você encara as comparações com Max Cavalera passados dez anos desde que você assumiu o posto de frontman da banda?

Derrick - Acho que sempre haverá comparações, porque existe uma história muito forte no passado do Sepultura. Mas eu não ligo. Não é como se eu estivesse sendo comparado com algo que fosse muito ruim. O que ocorre são comparações com uma coisa que de fato era muito boa, eram tempos muito bons e eu sinto que estamos envolvidos com essa história de diversas formas, tirando o fato de sermos pessoas diferentes. Então, eu realmente não ligo muito, contanto que eu faça esse trabalho de forma diferente. E eu nunca ouvi ninguém dizer que estou tentando copiar Max ou qualquer coisa deste tipo. Então, não estou realmente tão preocupado com isso.

Terra - Vocês ainda mantêm alguma relação com o Max?

Andreas - Eu não tenho mais relacionamento com o Max desde que ele saiu da banda. Foi uma coisa mais da parte dele de virar as costas e sair fora do jeito que ele saiu, né? Levou empresário, levou tudo, toda a estrutura que a banda levou dez anos pra construir. Eu encontrei com ele no ano passado e a gente conversou um pouquinho, falei com ele pelo telefone, inclusive. Quer dizer, tem um canal aberto pelo menos para a gente conversar, mas nada que vá resultar em alguma reunião, em tocar de novo, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Na verdade, nem penso nisso. Estamos muito ocupados em fazer o que estamos fazendo aqui, não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Não faz parte de nossos planos. É algo que, se acontecer, vai ser de forma natural, conversando um com outro, pois o Sepultura foi criado dessa forma, juntos, respeitando um ao outro, olhando no olho, falando as coisas, criando ideias juntos. Nós nunca teríamos chegado à tribo dos Xavantes se a gente não tivesse feito aquelas coisas totalmente juntos.

Terra - Você acompanha o trabalho dele?

Andreas - Sim, eu sempre escutei as coisas que ele faz, embora ache um pouco confuso. O Soufly, por exemplo, está sempre com uma formação diferente. Agora, o Iggor e ele tocam juntos (no Cavalera´s Conspiracy), só que o Iggor não escreve nada, só toca bateria e olhe lá. Então, é meio estranho as coisas do jeito que ele faz. Enfim, tem gente que gosta. Eu realmente prefiro curtir outras coisas, sabe? Eu escuto e respeito a relação que tivemos e tenho curiosidade pelo que ele faz hoje, mas estamos muito distantes um do outro, principalmente profissionalmente. Ele está fazendo uma coisa totalmente diferente de nós.

Terra - O heavy metal no Brasil sofreu uma queda brutal de popularidade no Brasil. Como vocês encaram isso?

Derrick - Eu acho que, definitivamente, não é mais tão grande quanto costumava ser, principalmente por causa da acessibilidade da música, pois ela foi muito facilitado graças à tecnologia, que dá às pessoas acesso a diferentes estilos de música a qualquer hora que elas quiserem. Acho que, no passado, você estava limitado apenas ao que podia ouvir, ao que estava ao seu alcance, então você terminava tendo um grande número de pessoas curtindo um estilo só, apenas um tipo de música. Mas agora há tantas coisas acontecendo. As pessoas podem criar suas próprias músicas em suas casas com o pro-tools (programa de produção musical) e isso gera também uma enorme variedade de músicas se espalhando por aí, e as pessoas têm acesso a esses diferentes estilos. Hoje em dia, portanto, o mais importante é que as pessoas te vejam ao vivo, que vejam o que realmente está ocorrendo, do que se trata essa banda, e isso só ocorre nas performances ao vivo. E a tecnologia também ajuda nisso, pois pela internet as pessoas têm a oportunidade de assistir você tocando ao vivo de outro país. Nós podemos fazer o show hoje na Europa e as pessoas podem acompanhá-lo daqui, sem sair de casa. Alcançar o público dessa forma é algo único e muito interessante.

Paulo Jr.- O fato também de estar tendo muito show internacional, com preços abusivos nos ingressos, tem atrapalhado não só o movimento metal, mas o artista nacional em si, porque neguinho paga R$ 1000 para assistir a um show, paga rindo, e aí vai assistir a um artista nacional que cobra R$ 50 reais e ele não vai porque acha caro. Ou seja, para os gringos, você paga R$ 500 no ingresso, mais R$ 200 de táxi, mais R$ 500 de comida, e paga rindo. Felizmente, no nosso caso é diferente, pois o nosso carro-chefe é fora do Brasil. Ano passado, inclusive, ficamos cinco meses fora. Então, o Sepultura está sempre trabalhando, a gente não para. Para o artista que fica mais por aqui, com certeza isso é muito mais sofrido do que tem sido para nós.

Terra - Mas e em relação à vendagem de discos?

Paulo - Na parte das vendas claro que a gente sente. Mas o lance é que nosso carro-chefe foi sempre tocar ao vivo. É no palco que temos o nosso ganho, a parte que temos mais controle. Principalmente hoje em dia.

Terra - Qual é a expectativa de vocês voltarem a tocar no Rock in Rio? Fale-me sobre a surpresa que o Sepultura trará para a apresentação.

Derrick - Nós esperamos, assim como foi em 2001, por um belo show, para muitas pessoas. Estaremos tocando com o Tambour du Brox, um grupo da França, e faremos algo diferente do que mera percussão no palco, trazendo uma combinação de arte e dança, criando algo que seja legal e bem incomum. É muito empolgante fazer uma performance com um grupo diferente porque é algo único no Rock in Rio, não algo típico.

Terra - Andreas, recentemente você foi chamado para substituir o Scott Ian no Anthrax durante alguns shows da banda. Como recebeu esse convite?

Andreas - Cara, o Scott Ian me ligou, falou que a mulher dele estava grávida e que o bebê ia nascer em julho. Ele me ligou e disse, "você é o cara!", e eu, 'c....., bicho. É mesmo? (risos)". Fiquei muito feliz, muito honrado e bastante surpreso também. O Anthrax faz parte do meu DNA de músico, de guitarrista, junto com as bandas do Big Four (Megadeth, Slayer e Metallica). Inclusive, eu vou fazer quatro dos shows do Big Four com o Anthrax e, p..., estou super honrado e feliz de eles terem pensado em mim e de terem tido essa confiança, porque o Scott Ian é o Anthrax praticamente. É o cara que segura aquela banda e eu fiquei muito feliz por ter recebido essa convocação.

Terra - Para finalizar, gostaria que o Paulo respondesse essa. Em uma entrevista publicada há muitos anos, o Andreas disse que você demorou muito para começar a gravar os baixos nos discos do Sepultura. Explique-me isso.

Paulo - Todo mundo gravou os baixo (risos).

Derrick - (solta uma sonora gargalhada e brinca) Até eu gravei.

Paulo - Falando sério, quando chegava a hora de ir ao estúdio, eu ficava nervoso e não conseguia gravar. Eu tocava as músicas ao vivo, mas não conseguia gravar o disco.

Terra - E agora?

Paulo - Hoje eu gravo tranquilo, sem problema nenhum.

Da esquerda para a direita: Jean Dolabella, Paulo Jr., Derrick Green e Andreas Kisser
Da esquerda para a direita: Jean Dolabella, Paulo Jr., Derrick Green e Andreas Kisser
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
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