De Beatles a Lady Gaga: saiba censuras do mercado fonográfico
9 jun2011 - 13h38
(atualizado às 13h51)
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A tarja tapando o nome do novo disco do Artic Monkeys, Suck it and See (chupe isso e veja, em português), inserida por grande parte das lojas norte-americanas, traz à tona uma discussão antiga, mas sempre atual: a censura. Apesar de não ter sido uma imposição das autoridades, como já ocorreu muito - e ainda ocorre - em diversos países, a notícia mostra como a liberdade de expressão artística ainda precisa de muita luta para de fato existir em sua totalidade.
Nos anos de ferro da ditadura militar brasileira, por exemplo, compositores como Chico Buarque e Geraldo Vandré precisavam de artíficios, como o uso de metáforas, para passar suas mensagens de indignação contra o Governo. Contudo, duas décadas após o fim do Regime, em 2005, a banda gaúcha Bidê ou Balde teve a canção E Por Que Não retirada da coletânea Acústico MTV Bandas Gaúchas por supostamente incentivar a pedofilia infantil.
A lista de trabalhos que sofreram algum tipo de veto, seja por parte de Governos ou por precauções das próprias gravadoras, é extensa e abrange toda a história da indústria fonográfica. Mesmo que a proibição das canções em si se mantenha hoje limitada a países mais religiosos ou a regimes totalitários - como foi o caso do último álbum da cantora Lady Gaga na Malásia e no Líbano -, capas e divulgação por rádio e TV ainda continuam sofrendo veto em nações democráticas do ocidente, destituindo do consumidor, o principal interessado, o direito de decidir o que para ele é ofensivo ou não, como se não tivesse discernimento para tanto.
Pensando nessa realidade, o Terra preparou um especial com vinte marcantes censuras do mundo da música nos últimos cinquenta anos. Uma vasta lista que inclui Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Kylie Minogue, Janet Jackson, Iron Maiden, Scorpions, entre muitos outros. Os vetos são os mais variados, indo desde letras consideradas por Governos como um convite à subversão até a capas que contrariariam os valores supostamente intocáveis da sociedade.
É bom lembrar que, mesmo com a censura, esses discos e suas canções, de uma forma ou de outra, sempre acabam chegando a público, cumprindo, assim, seu principal e único propósito, o de prover cultura e entretenimento às pessoas.
A maioria das lojas de discos norte-americanas censurou a capa do último disco da banda Artic Monkeys, 'Suck it and See' (chupe isso e veja, em português), colocando uma tarja sobre a frase com a justificativa de ser ofensiva a seus clientes
Foto: Reprodução
O novo trabalho de Lady Gaga, 'Born this Way', já sofreu represálias em dois países. Na Malásia, a faixa-título foi editada para ser tocada nas rádios pelo fato de incentivar homossexuais a se assumirem, algo proibido no país de maioria muçulmana. No Líbano, a situação foi ainda pior: o trabalho foi proibido pelas autoridades de ser comercializado, mas na última segunda-feira (6), o país retirou a proibição de distribuição e vendas
Foto: Reprodução
Considerado um marco na carreira dos Beatles, 'Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band' sofreu problemas não só por causa de uma, mas de duas canções. A BBC se recusou na época a tocar 'A Day in the Life', a última faixa do disco, por supostamente fazer referência às drogas. 'Lucy in the Sky with Diamonds' sofreu o mesmo tipo de problema, por aparentemente falar sobre o alucinógeno LSD, algo rechaçado por John Lennon em 1967, mas confirmado por Paul McCartney em 2004
Foto: Reprodução
O disco 'Yesterday and Today', lançado pelos Beatles em 1966, trazia o quarteto posando com aventais de açougueiro e bonecas decapitadas sanguinolentas. O trabalho chegou a ser distribuído nas lojas, mas logo foi recolhido pela gravadora EMI, que colou uma nova imagem na capa, com o grupo comportado. O LP com a foto original é hoje muito raro, e, consequentemente, de enorme valor
Foto: Reprodução
O single lançado pelo Wings, de Paul McCartney, em 1972, 'Give Ireland Back to the Irish', questionava o Domingo Sangrento, massacre ocorrido na Irlanda do Norte no ano anterior. Famoso por ter sido retratado pela banda U2, o assassinato de 14 manifestantes pelo Exército Britânico foi criticado pelo ex-Beatle, o que levou a canção a ter sua reprodução vetada pela BBC, pela Radio Luxembourg e pela Autoridade Independente de Televisão do país, a ITA
Foto: Reprodução
O disco 'Ordinary Man' foi proibido pela Corte irlandesa de ser vendido no país europeu por conta da faixa 'The Never Come Home', que culpava o governo e os donos da casa noturna Stardust de obstruírem as saídas de emergência dos clientes durante um incêndio ocorrido no local, em Dublin, em 1981. Oitenta e uma pessoas morreram e 214 saíram feridas
Foto: Reprodução
Em 1967, os Rolling Stones foram obrigados a retirar o conteúdo sexual da música 'Let´s Spend the Night Together' no Ed Sullivan Show, mudando seu refrão para 'Let´s Spend Some Time Together'. A banda inicialmente se recusou a fazê-lo, mas foi ameaçada pelo apresentador. O quinteto acabou cumprindo a ordem, mas durante toda a sua execução Mick Jagger virava os olhos deixando claro o real sentido da letra. Em 2006, a canção voltou a ser vetada, desta vez na China
Foto: Reprodução
A capa originalmente proposta pelos Rolling Stones para o disco 'Beggar´s Banquet' - sétimo trabalho do grupo, lançado em 1968 - foi recusada tanto pela gravadora norte-americana, quanto pela inglesa. O fato levou o lançamento do disco a ser adiado por vários meses pela insistência de Mick Jagger e companhia em ter a imagem. No fim, os selos venceram e o álbum foi comercializado com uma capa simples, apenas com os nomes da banda e do disco
Foto: Reprodução
A versão inglesa do disco 'Eletric Ladyland', da gravadora Track Records, trazia na capa 19 mulheres completamente nuas e causa controvérsia até hoje. Quando o trabalho de 1968 do lendário músico Jimi Hendrix foi relançado entre os anos de 1997 e 2001, a família do guitarrista, responsável por seus direitos musicais, permitiu apenas que a edição norte-americana, com uma imagem de Hendrix colorida com uma mistura de vermelho e amarelo, fosse comercializada
Foto: Reprodução
Vários países proibiram a comercialização do disco 'Virgin Killers', lançado pela banda alemã Scorpions em 1976. O motivo foi a capa, que trazia uma garota menor de idade completamente nua, com seu órgão sexual coberto por uma rachadura de vidro. A versão comercializada onde ocorreu o veto trazia uma imagem simples do quinteto
Foto: Reprodução
O segundo single da banda de heavy metal britânica Iron Maiden, 'Sanctuary', lançado em 1980, trazia o mascote Eddie com uma faca na mão e a então primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, morta no chão. A imagem foi considerada ofensiva, levando a gravadora EMI a colocar uma venda nos olhos da política, conhecida como dama de ferro (iron lady), apelido que inspirou o nome da banda, cuja tradução é donzela de ferro
Foto: Reprodução
O disco 'Christ Illusion', da banda de thrash metal norte-americana Slayer, foi proibido de ser comercializado na Índia devido à pressão de grupos ligados à Igreja que tomaram como ofensa a sua capa, que mostra Jesus Cristo com os braços dilacerados em um "mar de desespero". Apesar do veto no país asiático, o álbum rendeu prêmios Grammy à banda por melhor performance de metal, com as músicas 'Eyes of the Insane' e 'Final Six'
Foto: Reprodução
Apesar de ter chegado ao topo das paradas britânicas e da 'NME', o single 'God Save the Queen', lançado pela banda Sex Pistols em 1977, teve sua reprodução vetada pela rádio BBC e pela Independent Broadcasting Authority. A canção é uma crítica à rainha da Inglaterra, Elizabeth II
Foto: Reprodução
O quarto single da banda de punk rock Dead Kennedys, 'Too Drunk to Fuck', lançado em 1981, foi proibido de ser vendido em muitas lojas do Reino Unido por causa de seu título ofensivo - "muito bêbado para f....".
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Lançado pela banda norte-americana The Black Crowes em 1994, 'Amorica' causou polêmica por sua capa, que trazia uma foto tirada de uma edição da revista pornográfica 'Hustler', de 1976. Uma versão alternativa foi posta à venda pela gravadora American, colocando um fundo preto por trás da imagem do biquíni com a bandeira dos EUA, tirando de cena os pelos pubianos que saíam dele
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O álbum 'Chinese Democracy', lançado pelo Guns N´ Roses em 2008, foi banido na China por criticar o Governo do país, conhecido por sua repressão à liberdade de expressão
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O álbum 'Velvet Rope', lançado por Janet Jackson em 1997, foi proibido de ser comercializado em Cingapura por conter letras com temas explicitamente sexuais e homossexuais, ditos como inaceitáveis para a sociedade do país
Foto: Reprodução
'All of You', lançado por Janet Jackson em 2001, também sofreu veto em Cingapura pelos mesmos motivos do disco 'Velvet Rope'
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O álbum 'X', da cantora pop australiana Kylie Minogue, foi lançado na China em 2007 sem três das 13 faixas que compunham sua versão original por falarem de sexo e drogas - 'Nu-di-ty', 'Speakerphone' e 'Like a Drug'
Foto: Reprodução
O fim da Ditadura Militar no Brasil não exatamente acabou com a censura. No disco 'Acústico MTV Bandas Gaúchas', lançado em 2005 somente com artistas do Rio Grande do Sul, a banda Bidê ou Balde teve a faixa 'E Por que Não' retirada do trabalho pela gravadora após ONGs defensoras dos direitos das crianças e das mulheres alegarem que a canção fazia apologia à pedofilia. O caso gerou debates sobre censura e liberdade de expressão artística no País