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Shakira ignora chuva em show e hipnotiza SP com rebolado

19 mar 2011 - 21h50
(atualizado em 21/3/2011 às 10h49)
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Gabriel Perline
Direto de São Paulo

A terra da garoa fez jus ao seu título e recebeu a cantora Shakira neste sábado (19), no Estádio do Morumbi, com uma fina e intensa garoa. Às 20h50, a colombiana surgiu no vão que separava o palco e a pista premium com um olhar surpreso, pois há 14 anos, quando se apresentou pela última vez na cidade, o volume do coro de pessoas gritando seu nome e cantando Pienso en Ti - balada romântico-nostálgica escolhida para abrir a noite - era infinitamente menor. Envolta por uma capa rosa cintilante, ela subiu ao palco do Pop Music Festival e caminhou em direção à sua banda. Ao final da canção, logo mudou o tom, arrancando de forma bruta a vestimenta que a entornava e mostrando a que veio: hipnotizar e seduzir o público de São Paulo com sua afinação e requebrado, ingredientes presentes em seu novo universo.

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Shakira estava entregue de corpo e alma à noite. As danças provocativas e o cabelo molhado pela chuva apontaram o caminho que ela queria conduzir os fãs. "Como está minha gente do Brasil? Estava morrendo de saudades de vocês. Esta noite eu sou paulistana", disse a colombiana logo após cantar Why Wait e Te Dejo Madri. Foi o que bastou para ter o público ainda mais aos seus pés. Si Te Vas e Whenever, Wherever seguiram a linha rock latino, seguidas por Inevitable. "Escrevi numa noite como essa, em Barranquilla, com meus amigos. E se tornou uma das favoritas do meu repertório", disse a cantora, fechando o primeiro ato do espetáculo e lançando seu feitiço sobre os olhares atentos dos mais de 53 mil fãs.

O segundo ato do show serviu como um tapa na cara dos mais descrentes no gênero pop e até mesmo em muitas cantoras consagradas no segmento. A simplicidade adotada por Shakira enaltece seus dotes artísticos e suprime a "necessidade" de efeitos especiais e cenários majestosos presentes em megaproduções.

Com roupa cigana e músicos postos na extensão do palco, Shakira promoveu um espetáculo de dança flamenca, abusando de toda a sensualidade proveniente de sua natureza. Com uma performance metafórica, ela se entregou novamente ao ritmo e gozou, nasceu, morreu e ressuscitou conforme as batidas do caixote de madeira determinavam.

Para esta parte do show, ela fez um cover de Nothing Else Matters, do Metallica, e apresentou Despedida, presente na trilha sonora do filme Amor nos tempos do cólera. Gypsy, canção em que Shakira se declara uma pessoa livre no mundo, encerrou o ato.

Em meio às badalações dos hits efervescentes, Shakira fez uma pausa para expressar algo que pareceu não ter feito parte do script do show. Ao cantar Sale el Sol, música que dá título ao seu novo CD, a necessidade de externar algo incômodo de si era tão grande que em um dos pontos altos da música acabou arrancando sua blusa com muita força, rasgando-a ao meio e ficando apenas de sutiã.

Após o momento de desabafo, ela retornou ao palco para mostrar que as coreografias de Loca e She Wolf são possíveis - pelo menos para ela. Shakira se contorceu por completo, cantando sem perder o fôlego e a afinação, reproduzindo as danças mais complexas presentes em seus videoclipes.

Com o fim do show se aproximando, a chuva voltou a cair, com uma intensidade mais forte. Ojos Así, guardada para o gran finale, deixou a performance de Shakira ainda mais sensual. Os minutos dedicados à dança do ventre caíram como hipnóticos nos olhos de quem se deixou levar pelas idas e vindas do quadril e abdômen da cantora. "Obrigada por esta noite maravilhosa", disse a colombiana envolta por uma bandeira do Brasil, despedindo-se do público, que ficou sem entender a rápida saída da popstar do palco.

Poucos minutos depois, ela retornou e mostrou novamente que seu rebolado não mente com Hips Don't Lie e com o hino da Copa do Mundo de Futebol de 2010 Waka Waka. Shakira encerrou seu show apoteótico às 22h25 e não escondeu a emoção de ver uma legião de fãs reunidos no Estádio. Ela chorou. Ou pelo menos esboçou algo parecido com isso, mas foi possível ver no telão do Estádio seus olhos marejados.

Bastou Shakira abandonar o palco para a garoa cessar. Em uma noite em que as emoções mais positivas foram afloradas, pode-se dizer que as lágrimas que caíram do céu contemplaram a recepção da cantora como um gesto de boas-vindas de um povo nostálgico e a despedida de alguém que parte sem previsão de retorno.

Rebolado de Shakira minimiza constrangimentos

Se não fosse por dois "detalhes", o show de Shakira teria ganhado o selo da perfeição. O primeiro deles aconteceu em uma pausa no ato flamenco, para admirar a reação do público. Ela estava prestes a finalizar Gypsy, mas direcionou um olhar sorridente para o Estádio do Morumbi e os fãs, oportunistas, engataram o coro: "Estoy Aqui, Estoy Aqui". A música, responsável por torná-la conhecida no Brasil na década de 90, não fazia parte do setlist do show e Shakira ficou sem reação com o pedido, apenas riu, olhou para os lados e retomou a cantiga cigana.

O segundo aconteceu logo que Shakira começou a entoar Waka Waka. Seu microfone não funcionou e as primeiras estrofes não foram ouvidas pelos fãs. O fato reforçou a suspeita de que ela teria usado playback em Hips Don't Lie, que antecedeu Waka Waka, pois era impossível ouvir sua voz no microfone nos momentos em que tentou sair da letra da música para interagir com o público, sem contar a perfeição vocal, que muito lembrava à gravação de estúdio. A equipe técnica pode ter esquecido de ligar o microfone da popstar, que cantou no silêncio por alguns segundos até que a notassem. No entanto, a produção e a assessoria de imprensa do evento não souberam informar se ela fez uso do recurso nesta música.

Um festival nem tão "pop" como anunciado

A intenção de Shakira em promover um festival de música pop foi louvável, porém o line-up das bandas selecionadas para o evento no Brasil não se encaixavam perfeitamente no perfil esperado pelo público massivo que comprou o ingresso exclusivamente para assistí-la.

Chimarruts, a única atração brasileira do festival, teve a missão de quebrar o gelo das pessoas que passaram horas nas filas para garantir o melhor lugar no Estádio do Morumbi para assistir a colombiana. O reggae da banda gaúcha aos poucos envolveu o público, que se acomodava nas pistas e logo começou a cantar algumas das músicas da banda, conhecidas por serem reproduzidas em rádios voltadas aos jovens. Mesmo com a empolgação dos músicos, os fãs da colombiana pareciam poupar as energias para o grande show que ainda estaria por vir.

Com Train não foi diferente. A banda está na estrada há 17 anos, mas somente em 2010 ela ganhou nome no Brasil por causa do hit Hey, Soul Sister, e seu repertório é pouco conhecido por aqui. O vocalista Patrick Monahan, ciente do fato, se fez valer de artifícios que sustentariam a simpatia do público por eles. Cantou Umbrella, de Rihanna, música propícia para o dia chuvoso, e em seguida desceu do palco e percorreu entre os fãs no limite que separava a pista premium da geral. Sua aproximação do público rendeu bons comentários durante toda a noite.

Ziggy Marley ficou responsável por anteceder o show de Shakira e segurar os ânimos dos fãs, que já aguardavam ansiosos pela entrada da cantora no palco. Apoiado por sua banda e backing vocals, o cantor de reggae se fez valer de sucessos do pai, o eterno Bob Marley, para se aproximar do público. Alguns se renderam, outros ignoraram, visto que reggae, conforme citado, não era o ritmo favorito de grande parte das pessoas que estavam no Estádio.

Após o show de Shakira, o DJ Quentin Leo Cook, conhecido mundialmente por Fatboy Slim assumiu o comando do palco. A expectativa era que o Morumbi se esvaziasse rapidamente logo após a colombiana se despedir, mas boa parte do público se manteve, mesmo debaixo de chuva, para assistir à performance do DJ. Já que estava no Brasil, ele se fez valer do clichê e mixou samba com batidas eletrônicas, mas mesmo assim animou aqueles que ficaram para vê-lo.

Setlist

1. Pienso en ti

2. Why Wait

3. Te Dejo Madri

4. Si Te Vás

5. Whenever, Wherever

6. Inevitable

7. Nothinhg Else Matters

8. Despedida

9. Gypsy

10. La Tortura

11. Ciega Sordomuda

12. Sale El Sol

13. Las de la Intuición

14. Loca

15. She Wolf

16. Ojos Así

17. Hips Don't Lie

18. Waka Waka

Show da cantora colombiana durou pouco mais de 1h30 no Estádio do Morumbi, em SP
Show da cantora colombiana durou pouco mais de 1h30 no Estádio do Morumbi, em SP
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Fonte: Terra
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