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Paul McCartney leva 50 mil ao êxtase em Porto Alegre

7 nov 2010 - 21h30
(atualizado em 8/11/2010 às 08h02)
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Mauricio Tonetto
Direto de Porto Alegre

Quando Sir Paul McCartney pisou no palco do Estádio Beira-Rio, às 21h10 deste domingo, elegante como um nobre britânico, as 50 mil pessoas presentes pareciam não acreditar que estavam diante de uma lenda da música. Mais do que isso, não sabiam como reagir frente a uma figura que carrega na própria história o legado de gerações e o peso de ser uma das personalidades mais famosas e carismáticas ainda vivas. Sensível e entregue ao que faz, Paul olhou admirado a multidão de brasileiros ansiosos pela sua voz e não demorou a distribuir sorrisos.

Paul McCartney ficou empolgado com a animação do público no Beira-Rio
Paul McCartney ficou empolgado com a animação do público no Beira-Rio
Foto: Nabor Goulart/Agência Freelancer / Especial para Terra

Ouça Paul McCartney grátis no Sonora

"Paul, Paul, Paul..." era o coro entoado por crianças, adolescentes, adultos e idosos, unidos pelo mesmo sentimento de celebrar o encontro com um beatle. McCartney retribuiu da melhor forma que sabe e abriu o show com Venus and Mars, emendando Rock Show e Jet, demonstrando a mesma disposição dos tempos de adolescente, quando arrastava multidões ao lado de John Lennon, George Harrison e Ringo Star.

"Oi, tudo bem?", perguntou ele em português. "Tudo", explodiu o estádio. "Boa noite Porto Alegre, boa noite Brasil", completou o beatle, para delírio geral. Assim, de uma forma simples e envolvente, Paul conquistou a plateia na largada da apresentação. Logo em seguida, os acordes de All My Loving, a primeira música dos Beatles da turnê latina de "Up and Coming", colocaram o estádio abaixo. Sentindo calor - talvez de temperatura, talvez humano -, Paul tirou o moderno blazer roxo que escondia um tradicional suspensório e, solando por um minuto em Let Me Roll It, provou que não perdeu a majestade no ofício de roqueiro, atuando numa harmonia impecável com sua banda.

Depois, saltitando como um jovem, McCartney sentou-se ao piano e dedilhou as notas de The Long and Winding Road, uma das mais belas e sentimentais composições dos Beatles, dando início às homenagens da noite.

Lennon e Harrison, sempre presentes

Paul sabe cativar os seus fãs. Notando a presença de muitos casais de diversas idades, disse, com um sotaque engraçado: "Eu escrevi essa música para minha gatinha Linda, mas esta noite ela é para todos os namorados". Ele se referia a My Love, dedicada à sua mulher Linda McCartney, que morreu em 1998.

Com And I Love Her, arrancou mais abraços e beijos enquanto descontraía com um rebolado filmado pelas câmeras e exibido nos dois telões do palco. "Estamos gostando demais, é muito especial ouvir ele ao lado de quem a gente gosta", disse ao Terra Felipe Hulse, de Florianópolis, abraçado à namorada.

Um dos pontos altos da noite veio quando o músico mostrou que, além de lições de português, havia também aprendido algumas gírias locais ao arranhar um "bah, tchê" antes da música Blackbird, que precedeu a homenagem a John Lennon. "Eu escrevi essa música para meu amigo John", disse ele, enquanto o Beira-Rio respondia com "John, John, John...". Here Today foi cantada com respeito e carinho. Ao fundo, no telão do palco, uma imagem do planeta Terra se aproximava a uma imagem da lua, representando a união entre os amigos.

Para George Harrison, Paul disse: "Esta próxima música é para meu amigo George". Tratava-se de Something, clássico dos Beatles, acompanhada de um belo mosaico fotográfico de Harrison no telão em suas diversas fases e influências.

Mensagem de paz

Após as homenagens, Paul resolveu colocar as pessoas para dançar, tocando pela primeira vez no Brasil a canção Ob-La-Di Ob-La-Da. O Beira-Rio fervia como em dia de jogo do Internacional. Atento a todos os setores do estádio, Paul perguntava como estava indo o show, recebendo mais energia e retribuindo com frases do tipo "I got a feeling tonight".

O segundo ponto alto do espetáculo veio depois de A Day In The Life. Um imenso símbolo da paz e do amor, característico da trajetória de John Lennon, tomou conta do telão. Era a hora de todos cantarem Give Peace a Chance, batendo palmas e relembrando John outra vez.

As três próximas músicas - Let It be, Live and Let Die e Hey Jude - levaram as 50 mil pessoas ao êxtase ao intercalar momentos de escuridão e isqueiros acesos com explosões de fogos de artifício e fumaça no palco. Paul brincava, fazendo sinal de que estava surdo com tanto barulho. "Fiquei surpreso com a energia dele, a vitalidade. É de se admirar que, aos 68 anos, ele faça questão de tocar durante horas sem parar e sempre descontraído", disse o médico Hugo Antonio Fontana Filho, 30 anos.

Chamando primeiro os homens, depois as mulheres e finalmente todos a cantar Hey Jude, Paul encerrou o show e deixou o palco dando pulos. É claro que ele voltou para o primeiro bis, surpreendendo novamente ao entrar correndo com uma bandeira do Brasil e outra da Inglaterra. Irreverente, carismático e esperto, McCartney terminou de conquistar Porto Alegre quando disse "ah, eu sou gaúcho".

O primeiro bis - Day Tripper, Lady Madonna e Get Back - serviu para deixar claro que os anos fizeram bem para ele. Não houve espaço para erros e acordes tortos, pois ali estava um músico dedicado e extremamente profissional. "Lady Madonna realmente me pegou de surpresa, eu não esperava. O timbre dele é igual ao dos anos 1960", afirmou o administrador Alessandro Ribeiro, 29 anos.

No segundo bis, Paul mandou três dos maiores sucessos dos Beatles - Yesterday, Helter Skelter e Sgt. Pepper's -, encerrando seu primeiro show na América Latina da turnê "Up and Coming" com um rock puro e empolgante. Ainda teve tempo para autografar os braços de duas fãs que carregavam um cartaz no qual explicavam que tatuariam a assinatura do beatle, agradecer a todos que o ajudaram na montagem do show, rasgar elogios para sua banda e dizer "vamos embora" e "vejo vocês na próxima".

À meia-noite terminava o sonho de muitas pessoas presentes no Beira-Rio. O clima de celebração foi tão grande que não houve incidentes, reclamações e a sensação era de que momentos como esse não se repetem mais. "Quando eu desabrochei, os Beatles tocavam no rádio. Lembro que meu pai dizia que eles eram os besouros. Os Beatles marcaram a minha vida e hoje eu me emocionei com o dom do Paul de integrar todos, trazer o estádio inteiro para o mesmo show, nem sei explicar o que senti. Foi perfeito", disse Ciro Simoné, 59 anos, resumindo um pouco do que São Paulo poderá experimentar nos dias 21 e 22 de novembro.

Setlist

Venus and Mars

Rock Show

Jet

All My Loving

Letting Go

Drive My Car

Highway

Let Me Roll It

The Long and Winding Road

1985

Let Me In

My Love

I've Just Seen a Face

And I Love Her

Blackbird

Here Today

Dance Tonight

Mrs. Vanderbilt

Eleanor Rigby

Something

Sing the Changes

Band on the Run

Od-La-Di Ob-La-Da

Back in the USSR

I've Got Feeling

Paperback Writter

A Day in the Life

Let It Be

Live and Let Die

Hey Jude

Bis 1

Day Tripper

Lady Madonna

Get Back

Bis 2

Yesterday

Helter Skelter

Sgt. Pepper's / The End

Fonte: Redação Terra
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