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Mesmo sem carisma, Jake Bugg se salva de show previsível

Subindo em um palco paulistano pela terceira vez, o cantor inglês fez o que tinha que fazer e mesmo com sua já conhecida falta de carisma, deixou os fãs de boca aberta

28 nov 2014 - 10h16
(atualizado em 9/12/2014 às 17h42)
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O público de Jake Bugg teve que encarar não só uma garoa fina e vento frio enquanto aguardava na fila formada na área externa do Citibank Hall, em São Paulo, mas também uma nuvem de pernilongos que passeavam, sem se incomodar com a chuva, pelos arredores da casa, que fica junto ao Rio Pinheiros. Picadas à parte, o britânico fez a alegria dos fãs na noite dessa quinta-feira (27) ao adotar algumas mudanças em seu setlist quando comparado com o show no festival Lollapalooza, realizado em março, e em uma apresentação menor, no Cine Joia. 

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A ansiedade da fila se transformou em energia na hora da corrida que encheu rapidamente a pista, separada em área comum e premium, com a abertura dos portões. E no meio  de tantos adolescentes correndo, empurrando e falando com entusiasmo, se viu Moacyr Franco no canto da pista comum destoando o ambiente teen com um terno e aparência social. O cantor estava ali por outro motivo além do garoto de Clifton: seu filho Johnny Franco iria aquecer o público em instantes com sua banda The Moondogs. Mas unindo o útil ao agradável, o cantor e apresentador admitiu que conhece “umas duas músicas” da atração principal.

Jake Bugg se apresentou no Citibank Hall, em São Paulo, na noite dessa quinta-feira (27)
Jake Bugg se apresentou no Citibank Hall, em São Paulo, na noite dessa quinta-feira (27)
Foto: Osmar Portilho / Terra

foto: Osmar Portilho/Terra

Pontualmente, os paulistanos de The Moondogs abriram a noite e foram invejavelmente bem recebidos pelo público, que apesar de impaciente, aplaudiu, dançou e vibrou com os caras. Um feito louvável para a árdua tarefa de ser banda de abertura de um artista internacional. A banda foi pré-selecionada pelo próprio Jake Bugg e pareceu se sentir bem à vontade no palco, tocando canções do seu primeiro albúm Black & White Woman, além de arriscar um cover de Elvis Presley, para enfim ganhar a plateia. Diga-se de passagem que os meninos se sentiram tão a vontade que durante o cover, Johnny desceu do palco para dançar com uma das meninas da pista premium. 

A banda The Moondogs, liderada pelo filho do cantor Moacyr Franco, abriu o show de Jake Bugg
A banda The Moondogs, liderada pelo filho do cantor Moacyr Franco, abriu o show de Jake Bugg
Foto: Osmar Portilho / Terra

A banda The Moondogs, liderada por Johnny Franco (ao centro, pulando), filho do cantor Moacyr Franco. Foto: Osmar Portilho/Terra

Com o público devidamente aquecido, o clima começou a ficar apertado e era nítida a ansiedade dos fãs, que dessa vez não incluía apenas adultos de 20 e poucos anos. Era fácil achar adolescentes com pais inquietos, mas fãs bem mais velhos que a média também marcaram presença, cantando e dançando muito mais do que os vários jovens que estavam ali, talvez ocupados demais filmando o show ao invés de assisti-lo. 

E por mais clichê que soe, a pontualidade britânica se fez cumprir e às 21h30 Jake Bugg subiu no palco em meio a gritos e euforia. Assim que o garoto apareceu, várias câmeras também fizeram sua entrada e o espaço que o filho de Moacyr Franco teve para dançar no meio da pista já estava muito bem ocupado pelo público. 

Com a banda virada para o centro, ao invés das tradicionais posições que os colocam de frente para a público, Bugg se posicionou no meio e começou o show secamente com Messed Up Kids, acompanhada com a animação e coro do público. Palavras tímidas do cantor só vieram após a quarta canção, um breve e baixo “obrigado”. E são nesses detalhes “carrancudos” de sua personalidade que se nota que ele é apenas um bom garoto fazendo um bom trabalho. E que trabalho!

Jake Bugg se apresentou no Citibank Hall, em São Paulo, na noite dessa quinta-feira (27)
Jake Bugg se apresentou no Citibank Hall, em São Paulo, na noite dessa quinta-feira (27)
Foto: Osmar Portilho / Terra

foto: Osmar Portilho/Terra

Com um set equilibrado, misturando músicas de seu primeiro álbum, Jake Bugg, e do segundo, Shangri La, era nítido que os gritos eram mais altos e os refrãos mais cantados nas baladas românticas como Me and You e A Song About Love. Com a ajuda do público, Bugg logo soltou seu primeiro hit, Two Fingers, mostrando a que veio. Pode-se dizer que o britânico teve os fãs na mão, ditando o tom, hora mais alegre e hora mais pesado, como foi o caso de Ballad of Mr. Jones.

Outros sucessos como Seen It All, Taste It, Slumville Sunrise e What Doesn’t Kill You fizeram a alegria do público, que oscilou bastante entre gritos, coro e um ou outro silêncio ocasional estranho de caras quase que entediadas.

É nítida a desproporção do enorme palco com a figura singela e estática de Bugg, que apesar do talento estrondoso ecoar muito bem em grandes palcos, parece combinar com ambientes mais intimistas. 

O cantor é um desses poucos casos que o show se faz tranquilamente sem firula ou pirotecnia, mas o silêncio e o ritmo rápido entre uma música e outra causa um pouco de incômodo a um público tão caloroso e extrovertido como o brasileiro. Mas nada que atrapalhe a interação dos fãs fiéis e já acostumados com esse "jeitão" ora introspectivo, ora "mala".

Jake Bugg se apresentou no Citibank Hall, em São Paulo, na noite dessa quinta-feira (27)
Jake Bugg se apresentou no Citibank Hall, em São Paulo, na noite dessa quinta-feira (27)
Foto: Osmar Portilho / Terra

foto: Osmar Portilho/Terra

Sem dúvida, o ponto alto, além do seu primeiro single Two Fingers, foi ao tocar a penúltima canção, Broken. A plateia foi sua principal companhia e de maneira certeira mostrou ao cantor seu agradecimento pela noite. Apenas com o violão, Jake se entregou ao público não com frases prontas em português ou com gestos no palco, simplesmente com sua canção, o que tornou este um momento mais terno do show. 

O reconfortante é que o que se ouve no CD e ao vivo não há muita diferença, com voz firme e um tom folk, que passou por ricas mudanças, acrescentando-se guitarras e batidas essenciais, o rapaz dá um show no palco e no final das contas, ganha o público com seu talento promissor e não pela simpatia.

Fonte: Terra
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