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Há 18 anos, Madonna lançava 'Erotica', disco que rompeu tabus sexuais

20 out 2010 - 20h32
(atualizado às 20h49)
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Há 18 anos, chegava às lojas americanas o disco Erotica, o mais polêmico trabalho de Madonna, que lançaria de vez sua fama de mulher independente e camaleoa, com uma capacidade bem grande de irritar a Igreja e os defensores da velha moral.

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Madonna foi uma das primeiras cantoras a falar abertamente, para grandes massas, sobre a liberdade sexual, numa época em que a AIDS era não só uma ameaça, como arma contra a preservação da família. Com o mito de que a doença era uma "praga gay", a popstar apoderou-se dos boatos para dizer não só que era contra os bons costumes, como também enfrentou, diretamente, o preconceito e a hipocrisia.

O disco foi produzido por Shep Pettibone e Andre Betts. Na época, depois de lançar a balada erótica Justify My Love, cujo videoclipe foi banido pela MTV e acabou tendo que ser lançado em VHS, Madonna estava disposta a trazer suas mensagens feministas em músicas repletas de conteúdo sexual. Algo semelhante com o que ela já tinha feito nas performances da turnê Blond Ambition, em que simulava uma masturbação no palco ao som de Like a Virgin e fingia ser uma garota possuída em Like a Prayer.

O resultado foi um disco repleto de batidas pesadas, soul, ritmos underground e até reggae. Em faixas como Why It´s So Hard, ela reclamava, por exemplo, como era difícil amar sem levar em conta alguns preconceitos. Falava aos negros, aos homossexuais, aos religiosos.

Outras canções como Bye Bye Baby e Waiting abordavam seus relacionamentos frustrados, especialmente aqueles em que o parceiro - um homem sempre submisso - não "comparecia" com seu papel básico. As duas músicas vieram acompanhadas de Bad Girl, o relato de uma Madonna que, triste e vulnerável, fazia de tudo para machucar seu parceiro.

Mas foi em faixas como Erotica, Deeper and Deeper e In This Life que Madonna realmente provocou a massa conservadora. Na primeira, a cantora dava vida à dominatrix Dita, seu alterego, uma mulher que não se preocupava com nada, desde que pudesse realizar seus desejos sexuais. Em Deeper and Deeper, a canção de maior sucesso do álbum, a cantora se voltava contra a formação da família para declarar que seguiria o coração, e em In This Life lamentava a morte de amigos próximos, vítima da AIDS.

Quando o pano de fundo é o problema

O grande problema de Erotica não era a dedicação de Madonna em romper tabus sexuais, mas sim o que acompanhou seu lançamento. Ao mesmo tempo em que o disco chegava às lojas, o polêmico livro fotográfico Sex também era distribuído para o público.

No ensaio, clicado e filmado por Fabien Baron, Madonna aparece em fotos de conteúdo quase explícito, nua, simulando atos sexuais e mostrando seus fetiches.

O livro foi lançado um dia depois do álbum, em um combo de couro. A capa, metalizada e lacrada, não desvendava seu conteúdo, mas isso não foi o bastante para impedir que diversos conselhos, entre eles de algumas igrejas, como a Católica e a protestante, declarassem que Madonna era uma "pervertida sem valores, cujo trabalho era feito apenas para acabar com a constituição da família".

Embora o disco tivesse sido bem-recebido pela crítica, Madonna acabou ofuscada pela polêmica do livro. Resultado: em épocas de lançamento, Erotica vendeu apenas cinco milhões de cópias. No saldo total, o disco teve sete milhões de unidades comercializadas, duas milhões delas vendidas ao longo dos últimos anos.

Após a primeira tiragem de Sex ter sido totalmente esgotada em apenas alguns dias no mundo inteiro, o livro não voltou mais às prateleiras, a pedido da gravadora Warner, que já tinha mostrado opinião contrária à de Madonna no lançamento.

Mas isso não foi o bastante para frear a cantora. Alguns meses depois, ela entraria em turnê com o The Girlie Show, um espetáculo circense, classificado para maiores de 18 anos, que abusava das coreografias sexuais e trazia simulações de orgias homossexuais no palco, além de dançarinas nuas.

Como forma de protesto, Madonna estreou a turnê em Londres, o lugar onde, segundo ela, "reunia seus maiores inimigos". Em seguida, ela fez uma rápida passagem pela França, Canadá e Estados Unidos, encerrando as apresentações nos países de terceiro mundo, como Brasil, Argentina e Porto Rico. No Rio de Janeiro, ela reuniria o maior público de sua carreira: 120 mil pessoas acompanharam a apresentação no Maracanã.

Polêmica que gerou raiva

Com a carreira em baixa, apesar de todo o sucesso nos países da América Latina e Europa, Madonna ainda viria a tocar no assunto nos anos seguintes, lançando o disco Bedtime Stories, bem mais calmo que o anterior, mas ainda furioso. Em Human Nature, a cantora aproveita para criticar seus críticos, cantando, "I´m not sorry. It´s Human Nature. I'm not your bitch don't hang your shit on me" (Eu não sinto muito. Essa é a natureza humana. Eu não sou sua cadela, não jogue sua m... em mim).

A calmaria

Apesar do tempo, Madonna ainda não se relaciona bem com o disco, deixando a imagem de "mulher controladora" de lado com trabalhos como Ray of Light, em que mostrou seu primeiro flerte com a doutrina judaica da cabala, e Music. Ela só voltaria a tocar em assuntos polêmicos em American Life, um disco conciso, porém bem menos expressivo do que Erotica e com maior vocação política, ofendendo diretamente o governo do até então presidente americano, George W. Bush.

Em seus shows, Madonna também fez questão de esquecer as faixas do disco, embora tivesse performado uma versão mais dance de Erotica na turnê Confessions (2006), que praticamente perdeu a conotação sexual.

Mesmo com a polêmica, as canções do álbum não ficaram de fora de suas duas principais coletâneas, GH2 e Celebration, essa lançada em 2010.

No clipe de "Erotica", a pop star encarna Dita, sua alter ego sadomasoquista
No clipe de "Erotica", a pop star encarna Dita, sua alter ego sadomasoquista
Foto: Divulgação
Fonte: Redação Terra
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