Chicão diz que é preciso dissociar sua banda da imagem de Cássia Eller
- Leandro Souto Maior
Rio - A capa com Chicão, filho da cantora Cássia Eller, publicada ontem em O DIA D, mobilizou os leitores, que há muito se perguntavam por onde andava o herdeiro da estrela da música brasileira. Descoberto por O DIA tocando percussão e cantando na banda Zarapatéu, sob a Lona Cultural Herbert Vianna, no Complexo da Maré, ele mostrou que não é apenas 'o filho da Cássia', mas um músico talentoso e um ser humano sensível. "Não queremos ser conhecidos só como 'a banda do filho da Cássia Eller', é preciso dissociar a imagem do Zarapatéu da minha mãe", pede Chicão. Abaixo, o grupo - que toca clássicos de Chico Buarque, Baden Powell e Jorge Ben Jor e é formado por alunos do Centro Educacional Anísio Teixeira (Ceat) - conta suas aventuras.
O DIA: Como foi a experiência de se apresentar no Complexo da Maré?
Artur Sinapse, bateria: "Foi muito bacana. Acho que esse intercâmbio deveria ser algo mais frequente, porque essa história de barreira entre classes é uma grande besteira. O grande barato é juntar tudo e todos e, assim, aproveitar essa rica e valiosa cultura que temos aqui no nosso País."
Como escolhem o repertório que tocam ao vivo?
Bruna Araújo, voz: "O Zarapatéu procura personalizar as músicas, deixando que permaneça a essência dos clássicos que reproduzimos, mas colocando nossa pressão e criatividade. 'Zarapateamos'!"
Além dos clássicos da MPB que vocês curtem, há bandas ou artistas atuais que vocês admiram?
Lucas Videla, percussão e vocal: "Das gerações mais recentes, particularmente, gosto muito do Rodrigo Maranhão. Inclusive, tocamos uma música dele, Maracatu Embolado. Gostamos também do Rio Maracatu, 4 Cabeça e do Rogê."
Como está o processo de composição de músicas próprias do grupo?
Pedro Moragas, baixo: "A gente mostra as composições nos ensaios ou em eventuais encontros. A partir daí essas ideias são desenvolvidas. Ainda não há uma música feita em conjunto, por todos os oito integrantes da banda. Em geral, preferimos trabalhar nas composições dois a dois ou, no máximo, com três pessoas."
Em tempos digitais, vocês acham que ainda é necessário lançar um disco físico, ou só a divulgação pela Internet é suficiente?
Bernardo de Carvalho, clarineta: "Disco físico não é mais necessário, pelo menos do ponto de vista da divulgação, já que a Internet atinge um grande número de pessoas. Mas o CD é um registro importante que sempre marca um momento de um grupo e a concretização de um trabalho."
Como é administrar oito pessoas no conjunto e equilibrar as opiniões para que todos fiquem satisfeitos?
Marina Chuva, percussão e vocal: "É, oito pessoas é muita coisa e geralmente acaba dando muito trabalho, principalmente na hora de marcar ensaio, por exemplo. Mas as opiniões costumam ser bem parecidas e quando a maioria acha algo, os outros acabam cedendo. A gente tenta sempre conciliar as ideias."
Estudar em uma escola que incentiva o desenvolvimento artístico influenciou a decisão de querer seguir carreira na música?
Chico Eller, percussão e vocal: "Influenciou muito. Pelo menos na minha escolha. Não só pelas aulas de música, mas também pela liberdade que o colégio dá aos alunos no que diz respeito ao que nós acreditamos. É um espaço onde temos o direito de reclamar, de criticar e ser criticado, de não ter que fazer Medicina, Direito, Filosofia, Ciências Sociais ou qualquer outra coisa que a gente não queira."
Que palco do Rio é um sonho da banda se apresentar um dia?
Daniel Batalha, guitarra: "O Circo Voador é bem cobiçado, pois sempre nos encontramos pela Lapa e assistimos a vários shows por lá."