Cachorro Grande sobre novo CD: a gente gosta de coisa doida
Quinteto gaúcho lança o álbum 'Costa do Marfim' e "oficializa" flerte com eletrônico
O som alto que atravessa a porta não deixa que lá dentro ouçam minhas batidas. Hesito um pouco, mas a abro. Depois de um lance de escadas sou recepcionado por Duda, baterista da banda Pitty, em seu estúdio, onde em momentos ensaiará a banda Cachorro Grande. A principal questão a ser abordada na conversa é o seu novo álbum, Costa do Marfim, onde o quinteto deixa o seu flerte com a música eletrônica mais em evidência. Os gaúchos chegam, um a um, com os semblantes marcados por uma ressaca resultante de uma noite de exageros. Não importa se as batidas agora são eletrônicas, o rock segue vivo neles.
Costa do Marfim é o sétimo disco de estúdio do grupo e a nova direção sonora não pode ser considerada exatamente uma surpresa. Em 2009, em conversa com esta mesma reportagem, Beto Bruno e Marcelo Gross já falavam sobre seu flerte com a música eletrônica e o desejo de experimentar mais. "Desde aquele tempo a gente queria fazer um troço doido assim. E a gente gosta de coisa muito doida", afimou o vocalista.
O álbum abre com uma introdução de um minuto e segue para uma viagem de 10min54s intitulada Nós Vamos Fazer Você se Ligar. "A gente deixou muita coisa acontecer aqui. Foi a primeira vez que a gente se permitiu pirar no estúdio", completou Beto Bruno. O processo ainda contou com um sexto elemento: Edu K, do De Falla, que produziu o disco. "A produção do Edu fez com que a gente fizesse com mais propriedade essa coisa eletrônica. Foi crucial para essa mudança de som que a gente se propôs a fazer", completou Marcelo Gross.
foto: Osmar Portilho/Terra
Não deixa de ser surpreendente ouvir as novas referências dos gaúchos quando citam MGMT, Kasabian e Prodigy para explicar este novo caminho. A repaginada é vista com naturalidade pelo quinteto. "A gente nem se olhava entre uma música e outra. Já sabia qual era", explicou Beto. "Foi uma conversa nossa de muito tempo. Aconteceu no meio da última turnê, do Circo Voador ao vivo. Nos sentíamos fazendo cover de nós mesmos", completou.
A nova guinada tirou o Cachorro Grande de uma certa "zona de conforto". A reportagem acompanhou o quinteto durante um ensaio enquanto eles "quebravam a cabeça" para levar esse show para o palco. O plano da banda inclui tocar Costa do Marfim na íntegra no início da apresentação e depois seguir com seus hits até o final do show. O maior desafio para eles neste momento é aprender a tocar sobre as bases eletrônicas em sincronia com imagens exibidas no telão.
"Era uma icógnita. As canções saíram das demos direto pra gravação. A gente não ensaiou. Fomos aprender a tocar as músicas agora. Vai ficar mais pesado. Vai ser a banda somada com a parte eletrônica", explicou Gross.
Após a entrevista, o Terra acompanhou parte do ensaio da banda Cachorro Grande, que deixou registrar as faixas Nuvens de Fumaça e O Que Vai Ser. Para os fãs curiosos nesta interação entre rock e música eletrônica, é interessante esse peso extra na execução ao vivo, lembrando que o quinteto é famoso por shows bem explosivos. Para os fãs mais puritanos, por mais que as músicas tenham elementos extras, as melodias e estruturas das faixas não devem em nada aos sucessos dos gaúchos.
Como Era Bom
A sétima faixa de Costa do Marfim foi a escolhida para ter o primeiro clipe do álbum. O vídeo foi dirigido por Charly Coombes, irmão mais novo de Rob e Gaz Coombes, ambos do Supergrass. Com projeções que lembram bandas de space rock e o ínício psicodélico do Pink Floyd, o clipe foi o primeiro que a banda "não se meteu". "A gente sempre enche o saco dos diretores e isso dá errado. A gente quer se meter nos clipes. Dessa vez foi a hora da gente deixar na mão do diretor e o resultado foi bem melhor. Essa que é a real".
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