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Após "Efeito Tropa" e saída de integrante, Tihuana lança novo CD

Sucesso de faixa em filme de José Padilha ajudou banda a sobreviver ao declínio do rock nacional, e agora o Tihuana se prepara para voltar à cena

24 abr 2013 - 12h25
(atualizado às 13h54)
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Tihuana fala sobre novo CD e sucesso de 'Tropa':

O encontro estava marcado para uma terça-feira em um estúdio de gravação no bairro paulistano da Lapa, zona oeste da capital. O motivo era registrar o ensaio de uma banda –outrora famosa – e conversar com seus quatro integrantes. Após sete anos de hiato, o quarteto tinha acabado de finalizar a gravação de seu sexto disco de estúdio, Agora É Pra Valer, que tem seu lançamento ainda nesta semana. A expectativa era encontrar uma banda veterana, lutando para voltar ao sucesso que fora alcançado 10 anos antes. A realidade mostrou um grupo que passou os últimos anos mais distante dos holofotes, mas o Tihuana não é, definitivamente, uma banda que definhou nesse período.

A agenda de shows diminuiu, mas seguiu com consistência. A banda perdeu um de seus integrantes, o percussionista Baía, que trocou o rock pela música eletrônica “A verdade é que o Baía traiu o rock”, brinca o baixista Román. A “saída foi completamente amistosa. Nós torcemos muito por ele e sabemos que ele torce muito pela gente”, completa o vocalista Egypcio. Mas tirando um ou outro contratempo, o Tihuana talvez tenha sido uma das poucas bandas de sua geração que sobreviveu bem ao declínio do rock nacional nos últimos anos.

O gênero perdeu canais importantes de divulgação. A penetração e a relevância da MTV diminuíram. Rádios voltadas ao rock mudaram drasticamente suas programações. O Raimundos perdeu Rodolfo e, com isso, sua força. No Charlie Brown Jr., apenas Chorão ficou o tempo todo na formação. O emocore de CPM 22 e NX Zero evoluiu (ou regrediu?) para o rock colorido de Restart. E o funk e o sertanejo universitário preencheram o vácuo deixado. Enquanto isso, o Tihuana seguiu em frente. “No Tihuana, eu percebo nitidamente que de quatro em quatro anos o público se recicla. E sinto que tem uma ou duas gerações que a gente perdeu, o rock perdeu. Já ouvi adolescentes dizerem que não gostam de rock.”

Tihuana grava 'Tropa de Elite' para o Terra:

Se, apesar dos percalços do mercado, o Tihuana sobreviveu, o agradecimento vai em parte para outra expressão artística: o cinema. A banda nasceu em 1999 em São Paulo depois que Léo (guitarra), Román (baixo), Baía (percussão) e PG (bateria) decretaram o fim de sua antiga banda Ostheobaldo. Com Egypcio nos vocais, o grupo se batizou Tihuana e já de cara encarou o sucesso. No primeiro disco, Ilegal (2000) o quinteto viu quatro de suas 12 faixas pararem nas rádios: Praia Nudista, Pula!, Que Ves? e Tropa de Elite. Esta última seria a responsável por colocar o Tihuana de volta nas paradas quase 10 anos após seu lançamento.

<p>Egypcio, vocalista do Tihuana</p>
Egypcio, vocalista do Tihuana
Foto: Marcelo Pereira / Terra

No começo de 2007 a produtora do cineasta José Padilha entrou em contato com a banda para pedir autorização para usar a música em um filme sobre o Bope, estrelado por Wagner Moura. “Essas eram as informações que a gente tinha. Mas isso caiu no esquecimento, até a metade do ano quando meu irmão me ligou e disse que tinha visto um filme chamado Tropa de Elite e que a nossa música entrava bombando”, relembra Román. O sucesso da música funcionou como um desfibrilador que jogou a banda de novo sob os holofotes e ajudou o grupo a gravar um DVD ao vivo. Na gravação, a faixa ainda ganhou reforço do rapper e ator André Ramiro que interpreta um policial do Bope no filme.

Veja 'Tropa de Elite' apenas na bateria:

“O curioso é que nós não fizemos a música pensando na polícia. Na letra, a tropa de elite somos nós, a banda, que estava chegando para tomar a cena de assalto. Era uma coisa de banda iniciante”, explica Egypcio. Nenhum dos quatro se arrisca a escolher um predileto: a faixa ou o filme. Para Román, “a música fez sucesso porque o filme é muito bom, mas acredito que se ela não fosse boa ela ia passar batido. Ali juntou a fome com a vontade de comer.” Léo avalia o caso de forma mais filosófica: “a minha música deu nome ao maior sucesso cinematográfico do país”.

<p>Román, baixista do Tihuana</p>
Román, baixista do Tihuana
Foto: Marcelo Pereira / Terra

Mas o “Efeito Tropa” passou, e a banda agora mira novos alvos. E a munição vem de Agora É Pra Valer, o novo disco e sua primeira música de trabalho é Minha Rainha. A faixa segue a receita que consagrou a banda: guitarradas tropicais e uma letra escrachada cheia de eufemismos. E a participação de Digão dos Raimundos. Uma faixa um pouco datada sim, mas que finca o pé sobre de onde vem a banda: a geração roqueira da segunda metade da década de 90.

Ainda assim, a tarefa não é fácil. “O espaço do rock está realmente um pouco pequeno. Tem o sertanejo universitário, o forró universitário... Cadê o rock universitário?”, questiona Egypcio. Enquanto essa nova geração cobrada por ele não aparece, o Tihuana se coloca a disposição para ser a alternativa. E por enquanto, o quarteto parece bastante à vontade com essa função.

Tihuana grava 'Que ves?' para o Terra:
Fonte: Terra
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