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Ao som de Alice in Chains, fiz uma tatuagem do Metallica no Rock in Rio

Editor do Terra relata experiência: "não era minha primeira, por isso não esperava que ser tatuado em um festival fosse tão diferente"

22 set 2013 - 10h46
(atualizado às 10h46)
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Editor do Terra faz tatuagem do Metallica no Rock in Rio:

Foi-se o tempo em que uma tatuagem era símbolo de rebeldia. Já faz anos e anos que gravar um desenho na pele virou uma atividade estética, muitas vezes até completamente desprovida de qualquer significado. E por aí vão inscrições em japonês, tribais, estrelas, luas, flores, etc. Mesmo assim, para alguns, tatuagens é mais que um prazer, quase um vício. Num festival de música, as tatuagens são tão comuns quanto acessórios banais como bonés ou óculos escuros.

<p>A decora&ccedil;&atilde;o em neon, a ilumina&ccedil;&atilde;o colorida que vem de fora e o som que vem palco transformam a experi&ecirc;ncia em algo novo</p>
A decoração em neon, a iluminação colorida que vem de fora e o som que vem palco transformam a experiência em algo novo
Foto: Reprodução

E que tal misturar os dois da maneira mais direta possível, com um estúdio de tatuagem no meio de uma arena? O Rock in Rio tem isso, e num dos camarotes do evento, patrocinado pela Sky, operadora de TV por assinatura, a graça da experiência é fazer a tatuagem lá mesmo, no meio do festival, enquanto as bandas se apresentam nos Palcos Mundo e Sunset.

O Terra foi convidado pelos organizadores do camarote para conhecer o espaço e seu convidado mais notório: o tatuador americano Ami James, astro da TV em programas como Miami Ink e NY Ink. Como todos da equipe do Terra já têm tatuagens, a experiência não seria exatamente nova para ninguém. Ledo engano!

Batemos um papo com Ami James e depois fomos conhecer o espaço montado pela equipe da Body Art Tattoo, um conceituado estúdio de tatuagens do Rio de Janeiro. A proposta era simples: fazer uma tatuagem que durasse cerca de uma hora durante os shows da quinta-feira. Afinal tanto nós do Terra quanto o pessoal da Body Art Tattoo ainda tinhámos muito trabalho pela frente.

Primeira missão: a escolha do desenho

Para escolher o desenho que tatuaria na face interna do braço esquerdo demorei menos do que a prudência manda e bem mais do que a empolgação incita. Naquela quinta-feira, 19 de setembro, eu veria um show do Metallica pela sétima vez entre shows no Brasil e no exterior. Pareceu um bom motivo para fazer algo relacionado à banda. Mas decidir exatamente o que desenharia ainda me obrigaria a gastar um pouco mais de imaginação.

Foi fácil decidir que não queria simplesmente escrever o nome da banda. Desejava algo mais subjetivo. Fiquei um pouco inclinado a fazer a “estrela ninja” do Metallica: um mosaico formado por quatro letras M estilizadas como no logo original da banda. Esse desenho, entretanto, surgiu durante a fase Load/Reload da banda, quando os integrantes cortaram os cabelos, apareceram com os olhos maquiados e gravaram dois discos muito contestados até hoje.

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Entre a aplicação do desenho e o final do processo passou-se cerca de uma hora
Foto: Reprodução

Não que eu despreze completamente esse momento do Metallica, mas definitivamente não representa da melhor forma o que as músicas dessa banda significam para mim como fã.

Lembrei-me então do momento em que o Metallica deixou de ser, para mim, mais uma das dezenas de bandas de metal que eu ouvia à exaustão na adolescência e passou a ser integrante daquele seleto de grupo de favoritas. Daquelas que você começa a decorar nomes de produtores, detalhes do encarte de cada disco, etc. Foi no começo da década de 1990 com a histórica turnê do Black Album e seus shows de três horas de duração.

Pensei então na serpente que discretamente estampa a capa do famoso álbum preto. E devo admitir que esse desenho quase foi vencedor. Mas um detalhe me incomodava: ele não é um desenho original que remeta exclusivamente ao Metallica. É que esta mesma serpente está na bandeira de Gadsen, considerada o primeiro pavilhão dos atuais EUA. A cascavel foi proposta como símbolo da América Colonial por Benjamin Franklin. Segundo ele, o animal parecia vigilante, que ataca mortalmente quando provocado. Sob a serpente está inscrição "Don't Tread On Me" (Não Pise Em Mim, em tradução livre). A flâmula leva o nome de seu criador: o estadista e general americano Christopher Gadsden.

Esse fato foi o suficiente para dar a vitória ao outro finalista, o Scary Guy: um rabisco desajeitado feito pelo vocalista James Hetfield e que apareceu pela primeira vez na capa do single Live At Wembley Stadium de 1992, que traz três faixas gravadas ao vivo. Logo, o desenho se tornou um símbolo do Metallica e apareceu com mais destaque na caixa que recorta os melhor momentos da turnê do Black Album: Live Shit.

É hora da agulha

Desenho escolhido, foi hora da execução. Luiz, o tatuador responsável pela missão de gravar no meu braço o Scary Guy ainda passou cerca de vinte minutos esboçando o stêncil que faria as linhas guias para o desenho. O talento é inquestionável. Isto porque a única referência que ele tinha era um desenho na tela de um telefone celular.

Enquanto isso, no Palco Mundo, o Alice in Chains, penúltima atração do dia tocava seu primeiros acordes. Quem já se tatuou sabe que a maioria dos bons estúdios contam com um ambiente limpo e claro, quase que como um consultório odontológico. No Rock in Rio não é bem assim. A decoração em neon, a iluminação colorida que vem de fora e – principalmente – o som que vem do palco transformam a experiência em algo completamente novo.

<p>Com a tatuagem pronta e &ldquo;embalada&rdquo; de quebra ainda ganhamos uma aula sobre cuidados especiais</p>
Com a tatuagem pronta e “embalada” de quebra ainda ganhamos uma aula sobre cuidados especiais
Foto: Reprodução

Entre a aplicação do desenho e o final do processo passou-se cerca de uma hora. Liderados por Jerry Cantrell, o Alice in Chains despejava peso no público, predominantemente metaleiro. No estúdio da Body Art, Luiz pilotava a agulha pelo meu braço traçando aos poucos o contorno e preenchimento do desenho.

Um janelão em uma das paredes do estúdio/camarote convidava os passantes a exercitarem o voyeurismo. Curiosos olhavam, tiravam fotos e mandavam “chifrinhos” quando aprovavam o desenho escolhido. Do lado de dentro, eu, Luiz e os demais integrantes da equipe do Terra que estavam registrando todo processo conversávamos sobre as atrações deste e outros festivais e causos de tatuagens: gente que desistiu no meio por causa da dor, desenhos esquistos, e até bravos que encararam longas horas tatuando-se em lugares notadamente mais doloridos como a costela...

Com a tatuagem pronta e “embalada” de quebra ainda ganhamos uma aula sobre cuidados especiais do casal Simone e Fabrício, os proprietários do estúdio. Dicas sobre hidratação da pele, mitos e verdades sobre a cicatrização e coisas do gênero. Cheguei até a pensar que a atenção a mais era exclusividade minha por estarmos gravando uma matéria no espaço. Mas vi a Simone repetir a aula com cada uma das pessoas que era tatuada no local.

Hit the lights...

Luzes apagadas, o som de It's A Long Way To The Top (If You Wanna Rock 'n' Roll), do AC/DC começa sumir. No telão, Eli Wallach cai de costas apoiado em uma lápide. Logo se levanta e começa a correr pelo cemitério em cena de Três Homens Em Conflito com a faixa The Ecstasy Of Gold de Ennio Morricone não deixam dúvida: o Metallica está prestes a surgir no palco. Em instantes a banda liderada por James Hetfield e Lars Ulrich executa Hit The Lights, primeira músico, do primeiro álbum (Kill’Em All), lançado 30 anos atrás.

Música a música, o show do Metallica contagiava a multidão na Cidade do Rock. No palco, Hetfield (o autor do desenho), ignorava completamente a homenagem que naquele momento sangrava.

À altura de Seek & Destroy, faixa que coloca ponto final à apresentação, seria incorreto dizer que este era o mais marcante desempenho que eu testemunhava da banda. Mas, certamente, este sétimo show tem um significado especial: foi o primeiro que eu assisti com uma tatuagem da banda. No fim das contas, é apenas um desenho no braço. Mas para mim é como se saísse música desta tatuagem.

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O desenho escolhido foi o Scary Guy: um rabisco desajeitado feito pelo vocalista do Metallica, James Hetfield, e que apareceu pela primeira vez na capa do single Live At Wembley Stadium de 1992
Foto: Reprodução

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Fonte: Terra
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